Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu Eleições 2022

Ciro, Simone e outro punhado de votos que pode eleger Lula

Em cenário quase estável e apertado, nichos de eleitorado podem decidir a eleição no dia 2

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Faz mês e meio, as diferenças nas pesquisas Datafolha sobre a eleição presidencial têm sido pequenas. Seria possível até dizer que, em caso extremo, improvável, a diferença entre Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) praticamente não se alterou nessas semanas. Não parece ser o caso, dado o conjunto das estatísticas, como a diminuição da vantagem petista também no segundo turno ou a melhora discreta da avaliação do governo. Mas a eleição pode se decidir em detalhes, em nichos, em punhados de votos.

Antes de continuar, três lembretes:

  1. Lula tem 48% dos votos válidos no primeiro turno (já teve quase 52%, em fins de julho);
  2. Eleitores não muito decididos de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) podem render dois pontos para Lula, no limite;
  3. Parece ninharia, mas recorde-se: Lula passou para o segundo turno da eleição para presidente de 1989 com uma vantagem de 0,67% dos votos sobre Leonel Brizola (1922-2004), do PDT.

O que ainda pode ser decisivo, como uma definição em primeiro turno ou meios de Bolsonaro reduzir a grande distância para Lula em uma segunda rodada?

Retratos dos três candidatos
Os candidatos à Presidência Lula , Simone Tebet, Ciro Gomes. - Folhapress

Primeiro, sobram cada vez menos votos no poço de indecisos, nulos e brancos e há menos gente declaradamente propensa a mudar de ideia. No conjunto do eleitorado, 77% dizem estar decididos; são 86% entre os eleitores de Lula, 83% entre os de Bolsonaro.

Pode haver votos a explorar no balaio de Ciro e Simone, ressalte-se: 54% dos eleitores de cada um dizem que podem mudar de voto. No limite, na ponta do lápis, dariam hoje uma vitória a Lula na primeira rodada, tudo mais constante.

Segundo, o avanço de Bolsonaro indica o sucesso relativo de uma estratégia: depredar Lula, recuperar votos em seus nichos e se aproveitar da discreta melhora socioeconômica. Se dá para tomar os números ao pé da letra (as diferenças são pequenas), Bolsonaro avançou retomando votos entre homens, evangélicos e, aparentemente, no interior do Sudeste.

Lula parece não ter estratégia a não ser esperar que a rejeição a Bolsonaro continue majoritária e que a campanha bolsonarista não faça mais estrago na imagem do petista. "Jogar parado", como se diz.

Terceiro, Lula bate Bolsonaro por 58% a 42% em um segundo turno. A se repetirem abstenções, nulos e brancos de 2018, Bolsonaro precisaria tirar uns 9 milhões de votos de Lula a fim de empatar o jogo. É muito ou é possível?

A rejeição a Bolsonaro entre os eleitores de Ciro (65%) e de Simone (73%) continua muito maior que sua rejeição média (51%). Para que esse jogo vire, Lula tem de fazer alguma bobagem grande e/ou Bolsonaro provocar uma convulsão nas quatro semanas de campanha de um segundo turno. Por que Bolsonaro não o faria?

De interesse mais imediato, o encerramento da eleição no primeiro turno ainda é uma hipótese sobre a mesa, embora caindo pelas beiras. A estratégia bolsonariana dá algum resultado e a melhoria econômica ainda deve render pontos. Ainda assim, há votos úteis a pescar nos laguinhos de Ciro e Simone. Mas o lulismo não tem novidades ou inspiração, quando não parece desnorteado, como na sua relação com evangélicos. Terá algo a dizer a ciristas ou aos nichos de eleitores com os quais poderia conversar nas redes ou nas mensagens de celular? Sabe fazê-lo?

Para prestar atenção: uma abstenção mais extensa de certos eleitorados pode decidir a eleição, por ninharias de votos. Engajar o eleitor até o fim, para que vá votar, pode ser decisivo. Pode ser até que décimos de porcentagem da votação de candidaturas de PSTU ou PCB façam diferença em eleição apertada (e o Pros, que ainda apareceu nesta pesquisa, não terá mais candidato e vai apoiar Lula).

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