Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu PIB inflação juros

Lula 3 pode levantar a bola do PIB, que começa a baixar

Economia está esfriando, mas ainda há tempo de fazer retomada mais rápida em 2023

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O PIB começou a andar mais devagar no terceiro trimestre, que é quase passado remoto, quando se pensa nas reviravoltas da economia brasileira. Cresceu 0,4% ante o segundo trimestre e deve ficar estagnado neste final de ano.

O chute informado, embora frequentemente muito errado, é de crescimento de 1% em 2023, nos casos otimistas. Em termos de renda (PIB) per capita, por pessoa, seria praticamente estagnação.

Os dados mais recentes sobre o trabalho são do trimestre de agosto a outubro, quase nada mais recentes. O aumento do número de pessoas ocupadas também desacelera. Mas ainda cresce ao ritmo muito bom de 6% ao ano, mais de 5,7 milhões a mais de pessoas empregadas. Ainda menor que em 2019 ou 2018, o salário médio cresce acima da inflação desde setembro, pelo menos.

Pedestres circulam na região comercial da rua 25 de março, em São Paulo - Rivaldo Gomes - 1º.set.2022/Folhapress

É muitíssimo improvável que o crescimento do número de empregos continue nesse ritmo com o PIB crescendo 1%. A inflação deve cair mais um pouco, mas não o bastante para que as pessoas do mundo real notem a diferença. Isto é, notariam se os salários continuassem a subir, o que é muito improvável com a perda de ritmo do emprego.

Nas ruas, o que interessa é salário e inflação. O Bolsa Família de R$ 600 vai evitar muita miséria, mas não vai ser novidade. De resto, foi comido pela inflação ruim.

Politicamente, esse cenário seria um vento contra o governo de Lula 3, embora a esperança possa sustentar o prestígio de Luiz Inácio Lula da Silva. Foi assim em 2003.

Essa descrição pode estar toda errada, para o bem ou para o mal. Até o fim do primeiro trimestre deste ano, previa-se crescimento de 0,5% neste 2022; no final do primeiro semestre, de 1,5%. É bem possível que o PIB cresça 3%.

É apenas um indício, entre outros mais sérios, de que estamos sabendo pouco do funcionamento mais recente da economia brasileira.

Afora chutes informados, há os dados da realidade. A taxa básica de juros continuará nas alturas de 13,75% ao ano até a metade de 2023. Se o pacotão de endividamento da PEC da Transição vier na faixa superior, é bem provável que as taxas de juros no mercado saltem para nível ainda maior e que o Banco Central adie a redução da Selic.

Além disso, de crédito caro e incerteza, as famílias estão endividadas; a confiança caiu bem em novembro. A economia mundial não vai ajudar.

Em resumo, na passagem de 2022 para 2023, o bastão da corrida da economia estará caindo. Para que não vá ao chão, seria preciso melhorar expectativas e, fundamentalmente, antecipar a baixa da taxa de juros.

O prejuízo ainda não é grande, mas a transição do governo Lula 3 já perdeu tempo. Ministro da Fazenda e equipe econômica serão conhecidos em meados de dezembro. Até que se tenha alguma ideia do que podem fazer, ainda estaremos no escuro, bem entrado 2023. O tamanho do pacotão de gasto deve definir o ritmo de queda de juros.

Não é leite derramado, mas algum já vazou e, a depender de plano e equipe para a economia, pode-se chutar de vez o balde.

A economia está em um esfriamento previsível, por causa de juros em alta para que se contenha a inflação e pelo fim do efeito de gasto eleitoral. Daí, pode tomar o rumo de uma retomada até mais rápida, o que, no curtíssimo prazo, depende de juros, expectativas etc.

Ainda que o governo Lula conseguisse colocar as famosas obras paradas para andar, isso não é nada simples e demora (a depender de como for feito, o resultado pode ser até negativo).

Lula 3 pode estrear com vento a favor, mesmo pegando um barquinho talvez parando. No curto prazo, as alternativas são entre mínimas e nulas: evitar juros altos, o que depende do pacotão fiscal, de plano fiscal e da qualidade de equipe econômica.

Erramos: o texto foi alterado

O crescimento do PIB previsto para 2022 era de 1,5% ao final do primeiro semestre deste ano, não ao final do segundo semestre deste ano. O texto já foi corrigido.

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