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Esta coluna é uma parceria da Folha com o Centro de Política e Economia do Setor Público da Fundação Getúlio Vargas (FGV Cepesp).

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Republicanos e PSOL buscam seu lugar à direita e à esquerda

Republicanos tornou-se menos dependente do Sudeste, e PSOL concentra votos em SP, PA e RJ

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Lara Mesquita

Doutora em ciência política pelo Iesp/Uerj, pesquisadora do FGV Cepesp e membro da Câmara de Pesquisadores do Cebrap

No último domingo (15), mais de 100 milhões de brasileiros compareceram às urnas em 5.567 cidades do país para eleger prefeitos e vereadores. Dois partidos saíram das urnas como as vedetes da vez, um à direita, outro à esquerda: o Republicanos, partido com fortes ligações com a Igreja Universal ao qual estão filiados dois filhos do presidente da República, e o PSOL, que desbancou o PT na cidade de São Paulo e disputará o segundo turno na cidade como representante da esquerda. Embora à primeira vista possa parecer que tiveram desempenhos semelhantes, a realidade é bastante diferente.

Além de ter crescido de forma expressiva, como outros partidos de direita, o Republicanos desconcentrou sua votação, tornando-se menos dependente da região Sudeste e das cidades com 200 mil eleitores ou mais. O partido também obteve uma votação bastante próxima para vereador e prefeito, recebendo 9,7% de votos a mais entre os seus candidatos legislativos e ao Executivo. Apenas no Sudeste o partido recebeu mais votos para prefeito do que para vereador, puxado pelo desempenho “desbalanceado” no Rio de Janeiro. No Sul e Centro-Oeste, os votos para vereador superaram em mais de 70% a votação para o Executivo.

A capilaridade e consistência no desempenho do partido, diferente de outras siglas do mesmo espectro ideológico, acena com a possibilidade de que o crescimento verificado pelo Republicanos seja orgânico, e que assim o partido assuma maior protagonismo na política nacional.

O PSOL, por sua vez, teve movimentação mais modesta. Apesar do resultado expressivo na cidade de São Paulo, seus votos nacionais cresceram apenas 5% em relação a 2016. Além disso, concentrou mais seus votos no Sudeste e 90% dos votos vieram de cidades com mais de 200 mil eleitores. Três cidades, Belém, Rio de Janeiro e São Paulo, concentraram 45,7% dos votos nacionais que o partido recebeu para prefeito em 2016, e 63,3% dos votos recebidos em 2020.

O desempenho do partido nas corridas para vereador também não acompanhou o desempenho majoritário e corresponde a 76% dos votos recebidos para prefeito. Enquanto no Rio de Janeiro a votação do partido para vereador foi aproximadamente o dobro da votação para prefeito, no estado de São Paulo foi a metade, e apenas um terço no Pará.

A forte dependência de grandes centros urbanos e a pouca capilaridade não apontam para um cenário em que o partido assumiria o protagonismo eleitoral do bloco de esquerda, como o PT fez durante os últimos 30 anos.

O PSOL não sai das urnas em 2020 em posição de desbancar o PT como principal força da esquerda. Ainda que Guilherme Boulos tenha ido ao segundo turno, o partido só elegeu quatro prefeitos, 1,17% dos candidatos lançados, e só se mantém na disputa de vagas em duas cidades, São Paulo e Belém. O PT, por sua vez, elegeu 14,6% dos candidatos que apresentou no primeiro turno e participa do segundo turno em 15 cidades, três delas no estado de São Paulo. Mesmo o PSB, que caiu de 8% dos votos válidos para prefeito em 2016 para 5,1% dos votos em 2020, conseguiu eleger 29,6% dos candidatos que apresentou e disputa o segundo turno em 8 cidades, quatro delas no Sudeste.

Ainda que não existam evidências de que o pleito municipal seja um preditor das eleições presidenciais, o desempenho dos três principais partidos de esquerda em 2020 mostra que nenhum deles sai da disputa com liderança forte o suficiente para coordenar com os demais uma candidatura única em 2022. Se o PT é o partido mais rejeitado, é também o que receberá mais recursos públicos e o que registrou, dentre as legendas de esquerda, tanto em 2018 quanto em 2020, o melhor desempenho nas urnas.

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