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Cerco a livros explode nos Estados Unidos em ímpeto censor que ameaça o Brasil

Veto a Marçal Aquino em universidade aponta para cerceamento de obras por grupos conservadores

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As proibições a livros explodiram nos Estados Unidos e cresceram mais de 40% no ano passado, segundo um estudo da associação de bibliotecas do país, que identificou 2.571 títulos contestados nas prateleiras de diversos estados em 2022 após sofrerem pressão de grupos organizados.

Os conflitos tomaram uma proporção tamanha no debate americano que ganharam espaço no anúncio da candidatura à reeleição do presidente Joe Biden.

Ele acusa seus adversários apontando a dedicação deles ao banimento de livros —e é verdade que a tônica geral dos episódios é causada por grupos conservadores, próximos ao trumpismo, que costumam eleger como alvo livros que abordem diversidade sexual ou racial.

Têm sido cerceados tanto livros recentes como o quadrinho biográfico "Gênero Queer", de Maia Kobabe, campeão na lista da censura, quanto clássicos como "O Olho Mais Azul", de Toni Morrison, e "O Sol É para Todos", de Harper Lee, passando por Art Spiegelman e Margaret Atwood. Rupi Kaur também alardeou nas redes sociais que seu "Outros Jeitos de Usar a Boca" estava entre os títulos mais vetados.

Um episódio da última semana sugere que a discussão pode se repetir no contexto brasileiro. O vestibular de uma universidade privada de Goiás, a Rio Verde, tirou o livro "Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios" de sua lista de obras literárias recomendadas após um escândalo do deputado Gustavo Gayer, do Partido Liberal.

O romance de Marçal Aquino, que atraiu a ira do parlamentar por suas palavras lascivas, terá um evento de desagravo em São Paulo, na Livraria da Travessa de Pinheiros, na próxima quarta.

A editora Companhia das Letras diz que as vendas do livro "aumentaram significativamente" desde então e ele chegou, no último final de semana, à lista de mais vendidos da Amazon.

Sevani Matos, presidente da Câmara Brasileira do Livro, diz que o caso de Aquino não é exatamente o que se vê em terras americanas, mas parte de lógica semelhante. "É também a ação de grupos conservadores, que começam pequenos e vão se avolumando, se sentindo no direito de tolher o que as pessoas vão ler."

Ela lamenta qualquer tipo de proibição, aponta que as editoras indicam faixas etárias adequadas em seus livros, quando eles se voltam a jovens, e ressalta que a CBL sempre defenderá ao máximo a diversidade e a pluralidade do mercado. "Censurar livros é limitar o livre debate", diz.

Segundo Adriana Ferrari, vice-presidente da Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários, o cerceamento às bibliotecas começa com a ausência de políticas públicas voltadas a elas. "O que se lê é o que chega por doação."

No Brasil, pouco se encampa a defesa do direito à leitura e às bibliotecas, enquanto nos Estados Unidos essas constituem pautas históricas, segundo ela. Por isso lá as discussões são tão quentes.

Ferrari lembra uma iniciativa que ela tocou em 2020 na federação de bibliotecários, pedindo que profissionais relatassem, de forma anônima, iniciativas de censura que tivessem sofrido.

No relatório final, com casos de bibliotecas escolares, públicas, universitárias e especializadas, havia menções à retirada de livros de Karl Marx, de quadrinhos como "Persépolis" e de coletâneas como a infantojuvenil "Extraordinárias: Mulheres que Revolucionaram o Brasil".

MUTANTE A baiana Luciany Aparecida assinou contrato com a Alfaguara, que lançará seu primeiro romance com o nome de batismo —a escritora, que brinca com conceitos de autoria, conforme discutiu na mesa da Flip que dividiu com a argentina Camila Sosa Villada, já tem vasta obra escrita com pseudônimo.

MINHA MENINA No segundo semestre, ela publica "Mata Doce", ambientado numa comunidade rural comandada por mulheres, em que a jovem Maria Teresa decide trabalhar matando bois —tarefa tradicionalmente masculina ali— após sofrer uma perda violenta. A incursão de Aparecida no romance vem logo depois de dois elogiados livros em formatos distintos, no ano passado, a peça "Joanna Mina", na Paralelo13S, e a coletânea de poemas "Macala", editada por Luna Parque e Fósforo.

EU NEM SINTO OS MEUS PÉS NO CHÃO Prestes a estrear na Companhia das Letras está a mineira Marcela Dantés, finalista do Jabuti com "Nem Sinal de Asas" e autora do recente "João Maria Matilde", da Autêntica. O romance "Vento Vazio" sai em 2024 contando a loucura que domina uma pequena cidade.

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