Zeca Camargo

Jornalista e apresentador, autor de “A Fantástica Volta ao Mundo”.

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Zeca Camargo
Descrição de chapéu

Nenhum evento ou jantar vale a felicidade estampada no rosto dos meus amigos

Comemorar o meu aniversário com pessoas queridas em cidades especiais é o melhor presente

Foto áerea mostra o centro de Bangcoc à noite. O destaque vai para o Grande Palácio, construção grande que aparece toda iluminada
Grande Palácio de Bangcoc iluminado à noite no centro da imagem - Athit Perawongmetha/Reuters

Pedi um Torrontés, escolhi um lugar no balcão emoldurado pela enorme vitrine da loja de vinhos no fim da Corrientes e fiquei olhando de longe meus amigos e minha família saindo do ônibus. Era meu aniversário de 40 anos e chamei todos para comemorar comigo naquela cidade que eu amo: Buenos Aires.

Eu sabia o que os aguardava, mas eles aceitaram o convite sem conhecer o roteiro, apenas pelo prazer de estar ali celebrando um dia especial comigo. Um prazer que, diga-se, era todo meu.

Almoçamos num dos meus restaurantes favoritos (até hoje): Freud & Fahler, em Palermo Soho. Visitamos o Malba, o grande museu de arte latino-americana. Fizemos um happy hour, todos os 16 amigos, espremidos no meu quarto do hotel. E eu me encho de alegria, primeiro, por proporcionar tudo isso a eles.

E, depois, por ver a mesma alegria no rosto de cada um deles.

Nos 45 anos, resolvi levar um grupo ainda maior para Lisboa. Pelo menos foi isso que contei a eles. Sim, aproveitamos essa cidade incrível (e seus arredores) ao máximo: noites encharcadas em vinho na garrafeira do Bairro Alto que era do meu amigo Pedro Marques. Comemos bochechas de porco olhando a praia de Cascais, quando o restaurante 100 Maneiras ainda era lá. Suspiramos e gargalhamos pelas ruas tortuosas de Sintra. Mas, o aniversário mesmo, ninguém sabia onde seria.

Um dia antes da data, entramos na "carrinha" e rumamos ao norte. A suspeita era de que iríamos ao Porto, onde de fato jantamos memoravelmente no Foz Velha. Mas, já de madrugada, desembarcamos num cenário inacreditável: um convento (Santa Maria do Bouro) do século 17 reinventado como pousada, com as laranjeiras do antigo claustro dramaticamente iluminadas como se estivessem ali só para nos encantar.

Novamente tive a sensação de que nenhum evento, jantar ou confraternização em torno de algumas (ou várias) garrafas de porto valia mais do que a gratidão e a felicidade estampada no rosto de meus amigos –que, claro, refletia no meu.

Lá mesmo em Portugal prometi a mim mesmo que faria a festa dos 50 anos em Istambul. E fiz! O grupo aumentou –já éramos quase o números de anos que eu tinha vivido! A cidade também, com a responsabilidade de deixar todo mundo feliz. Mas a "velha Constantinopla" facilitou minha tarefa.

Bastaria deixar meus amigos livres por Sultanahmet (a parte antiga da cidade) para vê-los satisfeitos. Mas quis fazer mais: presenteá-los com uma mesa de 20 metros de "mezzes", comidinhas típicas da Turquia.

Jantamos com a vista das mesquitas iluminadas à distância. 

Visitamos o museu Istambul Modern, onde almoçamos debruçados no Bósforo. Tivemos o luxo de ter um coquetel em parte do Gran Bazaar (fechado para a ocasião), gentileza de um velho amigo, Ismail, que é comerciante lá, descendente de uma das famílias fundadoras do mercado coberto mais antigo do mundo.

Ah! E graças à criatividade de outra amiga –a Alessandra, que mora lá há anos e trabalha com turismo– vivemos uma noite de puro encantamento na Cisterna da Basílica, vendo um grupo de dervixes dançando só para nós...

E eis que agora estou diante do desafio da viagem dos 55 anos! Saio de férias nesta semana para encontrar meus amigos em... Bancoc! Você que me acompanha aqui sabe que essa é uma das cidades que eu mais amo no mundo –e agora eu quero dividir essa paixão justamente com as pessoas que amo.

Alguns já foram para lá, outros visitam pela primeira vez. Mas ninguém faz ideia do que os espera. Por isso mesmo, quando eles desembarcarem no caos maravilhoso que é a capital tailandesa, quero estar observando de longe, tentando capturar a excitação de seus olhares, quando esses seres queridos estão certos de que ganharam o melhor presente do mundo –a viagem–, mas sou eu o presenteado, só de renovar a certeza de que posso contar com o amor deles em qualquer canto da Terra...

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