Zeca Camargo

Jornalista e apresentador, autor de “A Fantástica Volta ao Mundo”.

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Existe um prazer secreto em visitar muitas vezes cidades que conheço bem

Destinos me trazem recordações únicas que são acionadas quando caminho por suas ruas

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Minhas férias estão chegando e eu faço questão de anunciá-las aos quatro ventos. E, ao fazer isso, já estou me acostumando a uma certa reação dos meus amigos.

Quando digo que vou a Bornéu, a curiosidade é imediata, com perguntas e mais perguntas sobre o que eu quero conhecer lá. Mas quando conto que, antes de chegar lá, passo por Bancoc, Luang Prabang e Ubud a resposta é uma inesperada indiferença: “De novo?”. 

Não se trata, claro, de um desinteresse por essas cidades tão vibrantes, cada uma a sua maneira. Talvez seja a expectativa que as pessoas têm com relação às minhas escolhas, uma vez que quem coleciona países (113, por enquanto) sempre deve querer expandir sua lista de lugares visitados. 

Maíra Mendes

Ou simplesmente uma vontade deles de que eu conte histórias de outros destinos, já que essas cidades do sudeste asiático aparecem com frequência nos meus relatos. Fato é que eu sempre me vejo na estranha situação de explicar por que eu gosto tanto de voltar para onde eu já conheço tão bem.

É um eterno dilema de quem ama viajar: revisitar onde você já foi tão feliz ou procurar essa felicidade em outros cantos? Bancoc e Luang Prabang, por exemplo, foram cenários que escolhi para comemorar meus 55 anos em 2018, com algumas das pessoas mais queridas da minha vida —viagem que compartilhei neste espaço. 

E Bali... Bem, Bali conheço bem desde minha época de mochileiro dançarino, nos idos dos anos 1980!
Então como eu justifico que quero voltar para lá quando ainda há uns 80 países me esperando para serem “descobertos”? De cara, eu tento reforçar que estou fazendo pelo menos uma parada em “terra incógnita”: Bornéu. 

Porém, tecnicamente, a região que pretendo visitar (sem spoilers!) pertence à Malásia, ou seja, um país que já está estampado no meu passaporte.

Mas digamos que essa grande ilha possa ser considerada “novidade” para mim. Por que eu insisto em juntar essa “estreia” com três escalas tão “manjadas”? A resposta não é simples, mas para resumir em uma frase: “Porque uma cidade nunca é a mesma, mesmo que você desembarque por lá dez, cem, mil vezes!”. 

É fácil ilustrar isso com Bancoc: gastronomia vibrante, comércio infinito, hotéis de sonho, e templos tão belos e inesperados que tão recentemente quanto o ano passado —minha 13ª incursão pela capital tailandesa— eu ainda estava descobrindo um novo: o inacreditável Wat Pariwat, com suas esculturas de Homem-Aranha e Pikachu.

E Luang Prabang, ou mesmo Ubud? Ambas as cidades são tão pequenas que é possível conhecê-las bem em apenas uma tarde. Qual o sentido em ir para lá, respectivamente, pela sexta e quarta vez? Vou tentar descrever o indescritível...

Existe um prazer secreto em andar por lugares que são familiares —e especialmente queridos. Bancoc, Luang Prabang e Bali, cada uma à sua maneira, me trazem recordações únicas que são imediatamente acionadas quando caminho pelas suas ruas. Não é um processo mecânico, muito menos racional.

Mas basta que eu dê dois passos em qualquer uma, olhe para os lados, e me sinta transportado para um sítio que literalmente não está no mapa. Que vive só na lembrança. 

São cidades que existem, sim, são bem reais, facilmente explicadas e conquistadas com um moderno aplicativo no seu celular. Mas vividas por mim de uma maneira única e especial.

E só consigo fazer isso sozinho em passeios que beiram a sinestesia. Sem roteiro definido, sem ponto de partida ou de chegada. Neles, não sou obrigado a nada, nem aos caprichos da própria memória. Tudo que quero é me conectar comigo mesmo. É dessa experiência que vai sair algo novo. 

Algo que provavelmente eu vou compartilhar com você aqui, ao menos em parte. Já que o resto do que vou sentir será, como já sei, impossível de traduzir em palavras. E é justamente essa parte intraduzível que me faz querer voltar a chãos que conheço tão bem.

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