Zeca Camargo

Jornalista e apresentador, autor de “A Fantástica Volta ao Mundo”.

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Zeca Camargo

Onde ir em 2020

Não estou sugerindo que você viaje hoje, mas que não pare de querer fazer isso

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Não estranhe este título. Reconheço: parece que quero fazer uma macabra provocação anacrônica com a nossa infinita vontade de viajar, mas trata-se apenas de uma inocente manchete de uma revista de pouco mais de seis meses atrás.

Antara Foto/Nyoman Hendra Wibowo/ via REUTERS
Performance no templo Besakih, em Bali, para pedir bençãos e o retorno da vida cotidiana sem coronavírus - Antara Foto/Nyoman Hendra Wibowo/ Reuters

Impressa sobre uma imagem gloriosa das cataratas de Victoria, na África (na verdade, um convite para um passeio pelo rio Zambeze), esta é a chamada principal da Travel+Leisure, uma das melhores publicações de turismo em circulação. Ah! De janeiro deste ano...

Lembra janeiro? Quando 2020 começava cheio de promessas, planos, roteiros? Das sete ondas que você pulou no mar sou capaz de apostar que uma delas era com um pedido de viagem. E aí fomos parar onde mesmo? Dentro de casa...

Este não é mais um exercício de frustração por termos tido o infortúnio de ter o passaporte de um país que virou piada no combate a uma pandemia (já assistiu ao vídeo de sátira dos “Muppets” com três dos governantes mais poderosos do mundo disputando quem tem mais vítimas de Covid-19? Procure por “The Corona Kings”, da Gzero Media).

O que quero é só tomar com você um copo de nostalgia de uma era, não tão prisca assim, onde a gente podia simplesmente sonhar em viajar. Tipo oito meses atrás.

Entre as sugestões estampadas na capa da revista —que, num requinte de crueldade, olhando com o que sabemos hoje, traz ainda um arco-íris desembocando nas águas de Victoria— estão alguns lugares que já visitei, como Kuala Lumpur. E outros que, confesso, não identifiquei de cara.

Taos? Conheço Laos, onde fica um pequeno paraíso chamado Luang Prabang. Mas dei um Google para saber que se tratava de uma estação de esqui no Novo México, Estados Unidos. Jalisco? Apostei numa praia mexicana, quem sabe uma nova Tulum? Acertei!

As outras sugestões para um ano que se abria em possibilidades eram mais conhecidas: Arequipa, Peru; Rajastão, Índia; Kyoto, Japão; vale do Douro, Portugal; Adis Abeba, na Etiópia. Todas já ticadas da minha lista.

E todas também prioridades daquela outra lista, a de lugares onde quero voltar: Bali, Indonésia; Colombo, Sri Lanka; Tamarindo, Costa Rica; Ko Lanta, Tailândia; parque de Etosha, Namíbia. Melhor eu parar com isso...

Ter encontrado essa Travel+Leisure abriu toda uma reflexão, mas foi também uma tortura. Há meses adiamos nossas férias como fazemos com tudo que planejamos para 2020.

Estamos perigosamente nos acostumando a pensar em viagens não como um objetivo, mas como uma ideia diáfana num horizonte que mal conseguimos ver.

Folheando a revista esses dias (e pode ter certeza de que fui fuçar em exemplares antigos também) percebi que estava deixando de me divertir com esse exercício de planejar uma jornada.

Identificou-se? Então pare de pensar assim e venha comigo para um imaginário não tão impossível de destinos alcançáveis. Não estou sugerindo que você embarque num avião hoje mesmo, mas que não pare de querer fazer isso.

A ignorância que hoje nos assola e suas consequências traumáticas que tristemente repercutem mais lá fora do que aqui, como a esperada marca de 100 mil vítimas fatais do vírus, é passageira. Chegamos aqui justamente porque a sabedoria sempre venceu na história da humanidade.

Isso que está aí agora é grave e terrível. Mas, mesmo que você não seja responsável por isso (ou tenha se arrependido de ter tido essa responsabilidade), acredite: a estupidez é passageira.

Na dúvida, olhe para a História, com maiúscula mesmo. Somos o fruto de mentes que cruzaram fronteiras, atravessaram mares, exploraram o espaço. Estamos em pausa, não em um destino terminal. E vamos seguir viagem.

Vamos somar os “onde ir” de 2020 aos de 2021. E vamos além. Pois ao contrário da marca que alguns pensam que estão deixando no presente, nossa curiosidade e a sabedoria que vem dela só vão crescer. Adivinha quem ganha no fim?

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