Zeca Camargo

Jornalista e apresentador, autor de “A Fantástica Volta ao Mundo”.

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Zeca Camargo
Descrição de chapéu férias

Recalculando a distância entre dois pontos

O grande segredo de uma viagem inesquecível é não se torturar com distâncias

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Entre uma viagem e outra eu também tenho esse hobby de apresentar programas. E, esta semana, estreei no comando de mais um, uma espécie de quiz show, com diversos tipos de perguntas. Inclusive de viagens.

Mais especificamente, a certa altura da competição, eu lanço um desafio para as pessoas adivinharem a distância entre determinado ponto no planeta e a porta da emissora em que trabalho agora, a Bandeirantes.

Os participantes escolhem as categorias: palácios, parques, igrejas, praças —e até cidades-fantasmas! Eu dou algumas dicas para o chute (e é um chute, a não ser que você tenha um GPS implantado no cérebro) e espero as respostas.

Atualmente a medição de distâncias terrestres é feita por satélites
Qual a distância real até o ponto aonde queremos chegar? - Freepik

Elas variam de aproximações razoáveis a várias voltas ao mundo. Sempre nos divertimos com os palpites absurdos, mas também nos surpreendemos com acertos quase precisos.

Mais que tudo, e isso, claro, eu não revelo diante das câmeras, eu fico assustado com o quanto meus próprios chutes (que calculo apenas para mim) caem fora do alvo.

Alguém que já deu quatro voltas ao mundo deveria ter um pouco mais de experiência para acertar distâncias entre dois lugares no nosso planeta, certo? Porém, revisitando minhas aventuras, algumas até já narradas neste espaço, percebi que, se eu participasse do meu programa, não teria a menor chance de ganhar o prêmio.

Quando viajamos, estamos sempre preocupados com esses percursos ou, ainda, com o tempo que levaremos para chegar a um determinado destino. Nossa ansiedade nos oprime com essa precisão e nos leva a inevitáveis frustrações.

Queremos chegar. Sabemos aonde. Mas quando? Se você já saiu de casa alguma vez em viagem de férias, sabe do que eu estou falando. Mas será que precisamos sofrer por conta disso?

Lembrei-me de uma travessia de barco que fiz certa vez entre Phnom Phen e Siam Reap, no Camboja. Saindo pelo rio Tonlé Sap e desembocando no lago com o mesmo nome, nem senti passar a viagem de quase nove horas, tamanha a beleza do que via. Fora a expectativa de chegar pela primeira vez em Angkor!

Já quando fiz um trekking de 75km pelo interior de Papua Nova Guiné, cheguei a delirar tão forte no meio da selva que, ao jogar minha mochila no chão e gritar com o guia que não daria mais um passo, tive que voltar à realidade levando na cara um tapa dele (episódio já contado em detalhes nesta coluna).

Psicologicamente, talvez a viagem mais longa que fiz na minha vida foi de ônibus entre Assunção, no Paraguai, e Ponta Porã (MS). E a mais curta, a de Honolulu, no Havaí, a Auckland, Nova Zelândia: 15 horas de voo, um dia que não vivi na minha vida (16 de junho de 2004, quando cruzei Linha Internacional de Data), e um paraíso me esperando no destino final.

Voltar de Bruxelas de carro para Paris depois dos atentados que presenciei na capital belga em 2016 levou uma eternidade. Uma lua-de-mel na Ilha de Páscoa foi só "um pulinho"! Nove horas em estrada de terra pelo interior do Mali, a caminho de Timbuctu então... nem senti!

O grande segredo de uma viagem inesquecível é não se torturar com essas distâncias. Um trem na Índia. Um balão no vale do Loire. Uma caminhada na Chapada Diamantina (BA). Um tuktuk em Bangcoc. Uma moto pelos arrozais de Bali. Um passeio de mãos dadas em Caraíva (BA). Um teco-teco sobrevoando a Namíbia. Uma van procurando auroras boreais pela Noruega.

Meus professores de geometria que me desculpem mas, quando a gente viaja, a distância mais curta entre dois pontos não é bem uma reta: é a sua vontade de chegar lá.

Taí uma sabedoria que não vai te ajudar muito a ganhar um quiz show...

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