Zeca Camargo

Jornalista e apresentador, autor de “A Fantástica Volta ao Mundo”.

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Inesperadas peregrinações

Em nenhum lugar a energia de Elvis é tão forte quanto em Graceland

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Motivos para você ver "Elvis", o novo filme de Baz Luhrmann? A edição frenética, marca do diretor. O carisma de Austin Butler, no papel principal. O repertório imortal do rei. Eu fui para matar saudades de Graceland. Claro que fui também por tudo que citei antes —e mais: a fantástica recriação da energia dos seus shows e o resgate da força de belos rostos na tela grande (aquilo que um dia já se chamou de cinema). Mas eu queria mesmo era revisitar um lugar que conheci em 2012.

Austin Butler no filme "Elvis", de Baz Luhrmann
Austin Butler no filme 'Elvis', de Baz Luhrmann - Divulgação

Fui a Memphis, no estado americano de Tennessee, com a missão de fazer uma reportagem para o "Fantástico". O Brasil receberia, naquele ano, uma super exposição com relíquias do "rei do rock" e, para promover o evento, ninguém menos do que Priscilla Presley abriria sua casa para mim. Estava ciente de que exploraria um lugar "sagrado". Do DJ que há décadas só tocava música de Elvis ao estúdio onde ele gravou seus primeiros sucessos, não me decepcionei em nenhum encontro que tivera antes: a energia do ídolo estava sempre lá. Mas em nenhum lugar ela era tão forte quanto em Graceland. Sim, eu sabia que Luhrmann não tinha usado a própria casa como locação. O filme todo foi rodado em Queensland, na Austrália. Mas eu tinha certeza de que o diretor não se contentaria com nada menos do que uma réplica idêntica da mansão pós-colonial do casal Presley.

E ela estava lá na tela do cinema, em toda sua grandeza. E, bem... pequeneza! Uma das coisas que mais me chamaram a atenção quando entrei por aquele pórtico para ser recebido por Priscilla foi o quanto a casa era relativamente modesta. Claro que não estamos falando de uma choupana, mas, atrás da fachada imponente, no lugar de suntuosidade, senti-me bem-vindo em espaços bem aconchegantes.

O hall de entrada, muito bem explorado na cena de "Elvis" em que Priscilla decide se separar, é relativamente pequeno, assim como a sala de jantar (que também aparece bastante) e a de visitas. A sensação, estranhamente, era a de que eu estava andando por uma casa de bonecas. Talvez a trajetória surreal da vida de Elvis tenha contribuído para isso. Tudo parece fabricado, da sala íntima decorada com motivos "tiki", de inspiração havaiana (lamentavelmente não explorada por Luhrmann), ao pequeno estábulo para os cavalos de estimação. E, ao mesmo tempo, tudo parecia tão vivo e vibrante. Como, aliás, o diretor de "Elvis" soube passar muito bem no seu filme. Na minúcia dos detalhes, o passaporte para que todos pudessem entrar na magia do universo desse ídolo. Viajando pelo mundo, já passei por vários lugares que chamo de "destinos de peregrinação musical". O cemitério do Père-Lachais, por exemplo, em Paris, onde, entre tantos artistas, está enterrado Jim Morrison, a lenda do The Doors.

Já fui também à casa de Amália Rodrigues, em Lisboa. Ao museu Carlos Gardel, em Buenos Aires, onde a lenda do tango viveu com sua mãe.

Visitei várias vezes o CBGB, em Nova York, antes de o lugar ter seu palco, por onde passaram artistas como Velvet Underground, Ramones, Blondie e Talking Heads, transformado em prateleiras para roupas de grife. Agradeço ao Skank por te me convidado a entrevistá-los nos lendários estúdios de Abbey Road, em Londres. E, em escalas mais idiossincráticas, fui ao "ashram" dos Beatles em Rishkesh, Índia, e ao endereço do nascimento de Freddie Mercury (Queen!), em Zanzibar, na Tanzânia. De todos esses lugares trouxe não apenas memórias, mas sons indescritíveis que, longe de serem fantasmas, estão até hoje comigo tão vivos quanto, dizem, o próprio Elvis. Duvida? Então vá ao cinema conferir.

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