Zeca Camargo

Jornalista e apresentador, autor de “A Fantástica Volta ao Mundo”.

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Zeca Camargo

Penny Lane na Serra Gaúcha

Personagens e lugares ressoaram como música na minha vivência em Gramado

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Gramado (RS)

Ainda não encontrei um barbeiro que me mostre fotografias de todas as cabeças que conheceu. Tampouco um bombeiro com uma ampulheta e uma foto da rainha. Mas todas as pessoas que vão e que vem param para me dizer "oi".

Estou há uma semana em Gramado (RS). Tive a honra de ter sido convidado para integrar o júri do famoso festival de cinema, e decidir os prêmios para filmes internacionais. E, pronto, aqui estou desde sexta-feira (12).

Pedestres caminham em rua da região central de Gramado
Pedestres caminham em rua da região central de Gramado - Marcos Nagelstein/Folhapress

Essa estadia prolongada me colocou por um período relativamente longo num lugar onde as pessoas geralmente passam só um par de dias. E isso me trouxe uma curiosa dissonância cognitiva.

Eu mesmo nunca tinha ficado mais que 48 horas aqui. Sempre vim rapidamente a trabalho, em reportagens sobre os diversos encantos que fazem deste um dos destinos turísticos mais procurados do Brasil.

Conforme a pesquisa que você consulta, Gramado pode ocupar a primeira ou a terceira posição entre a preferência do turista brasileiro. Mas nunca abaixo do top 5, e é fácil entender o porquê.

Pequena e charmosa, Gramado construiu por décadas sua reputação. O festival de cinema, que agora completa 50 anos, foi durante anos sua maior vitrine. Mas o investimento para atrair visitantes não parou por aí.

Famosa por seus chocolates, herança europeia da região, a Páscoa sempre foi uma temporada quente na cidade, se não na temperatura, ao menos no agito. Mais recentemente, a época natalina se tornou também um atrativo.

Com a criação de um evento abstrato (e cheio de encanto), o Natal Luz, Gramado conseguiu mais uma vez atrair as massas. E sempre com beleza e hospitalidade.

Quase dois meses antes do dia do nascimento de Cristo, todos os cantos daqui estão decorados com bonecos de neve e papais noéis. É o mais próximo que podemos chegar da Lapônia. E irresistível.

Porém, além desse calendário, o turista sai sempre com a sensação de ter vivido um momento especial. Mas como é a rotina de estar aqui por um período mais longo?


Bem, eu não posso reclamar. Todo dia eu acordo, tomo meu café, me reúno com meus colegas jurados, procuro um lugar legal para almoçar e outro para tomar um vinho —e de noite assisto a um filme internacional.

E, nesse cotidiano, fui criando uma estranha intimidade com Gramado. Andando pelo seu centro, se não me sinto exatamente em casa, ao menos reconheço algo de familiar nos meus passeios.

Tem aquela loja de chocolates na esquina. Em seguida, a malharia. Duas malharias. Uma casa especializada em facas. Um restaurante de fondue que ainda quero ir. Uma vinícola. Outra loja de chocolates. Outra de facas. Outro restaurante de fondue. Mais uma vinícola.

Uma grife masculina de Porto Alegre acaba de abrir em Gramado. Descubro também uma grande loja de bichos de pelúcia. Voltam os chocolates, as malhas, as facas, as fondues. E assim, vou me apegando a cada esquina da cidade.

Onde sempre alguém simpático me pede uma selfie, diz algo carinhoso, me pergunta (como se precisasse!) se estou gostando de estar aqui. Eventualmente até fazem uma rápida ligação de vídeo para mostrar para alguém que me encontrou.

E foi num desses momentos que me lembrei do clássico dos Beatles, "Penny Lane". Sua descrição apaixonada dos personagens que lá habitam ressoaram como, hum, música na minha vivência prolongada em Gramado.

Neste sábado (20) anunciaremos os premiados e no fim de semana já volto para minha casa. Mas, além de filmes fantásticos, retorno com a experiência de ter vivido intensamente, ainda que apenas por uns dias, numa cidade tão de todo mundo como se fosse só minha.

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