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Cachaça de Paraty é produzida do mesmo jeito desde o século 18
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ANDRÉ BARCINSKI
DE PARATY (RJ)
Chove em Paraty. Mesmo assim, Maria Izabel Gibrail Costa, 61, prefere andar descalça. "Só uso sapato para viajar. Por isso, não viajo muito."
Maria Izabel é uma personagem conhecida na cidade. Nasceu em Paraty, assim como os pais e as seis filhas.
Isadora Brant/Folhapress |
Maria Isabel, dona do alambique que leva seu nome, em Paraty |
Cresceu numa fazenda, ouvindo histórias dos antepassados, que chegaram aqui no século 18 e ficaram famosos produzindo cachaça. "Ainda me emociono muito quando vejo os casarões de Paraty."
Desde 1994, Maria Izabel produz a cachaça que leva seu nome, uma das melhores da região. Sua produção é pequena -cerca de 7.000 litros por ano- e feita com as mesmas técnicas de seus antepassados. "Somos a única cachaçaria que ainda produz o próprio fermento, como se fazia antigamente", diz.
Maria Izabel vive e trabalha no sítio Santo Antônio, uma linda propriedade à beira-mar, a 5 km da cidade.
Lá fica a plantação de cana e o alambique. Diz que só usa a própria cana ou a de propriedades próximas para poder cortá-la e moê-la no mesmo dia, evitando a acidez.
O alambique produz duas cachaças, a normal e a azulada, esta destilada com a folha da tangerina. A bebida fica guardada em tonéis de jequitibá, que não interferem no aroma, e em barris de carvalho, que deixam a cachaça amarelada e, segundo Maria Izabel, "marcam" o sabor.
Ela sabe que seu produto é o mais caro da região. "Nossa cachaça custa caro porque a produção é cara", diz.
"É muito mais dispendioso plantar cana do que comprá-la de Caçapava, por exemplo. E nossa plantação fica num morro, por isso não uso máquinas. A colheita é manual, feita com enxada."
Os maiores consumidores da cachaça Maria Izabel são comerciantes da própria cidade de Paraty. Além deles, alguns turistas visitam o alambique para degustações e sempre levam garrafas.
BOCA A BOCA
A empresária não pensa em crescer mais: "Aqui, trabalhamos só eu e três funcionários. Está bom assim".
A divulgação da cachaça é feita no boca a boca, assim como as visitas ao alambique. Não há nem sequer uma placa na estrada informando a localização do sítio. "Não quero ficar exposta. Afinal, eu moro aqui", afirma.
Ela mora com a filha, Maia, 18, portadora da síndrome de Down. As duas vão à cidade quase todos os dias para sessões de fonoterapia.
Será que alguma das filhas pretende continuar a tradição da cachaça Maria Izabel depois que a mãe se aposentar? "Não penso nisso. Se não quiserem, tudo bem."
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