Praias paradisíacas de areia branca, sol, coqueiros, gente festeira... a semelhança entre Brasil e Costa Rica, que jogam nesta sexta-feira (22) às 9h pela Copa do Mundo, não se limita à paisagem de pôster de agência de turismo.
Ambos os países têm o arroz com feijão como prato nacional. Na Costa Rica, ele recebe o nome de gallo pinto.
Esqueça a cumbuca de feijão caldoso ao lado da travessa de arroz: no gallo pinto, eles se misturam já na panela. Nada de causar espanto. É como o baião de dois nordestino, só que feito com feijão preto.
Curiosa, para nós brasileiros, é a ocasião favorita dos costarriquenhos para atacar um pratão de arroz com feijão.
“É meio estranho porque a galera come no café da manhã”, conta o designer gráfico Rodrigo Corradini Lemes, que viajou duas vezes à Costa Rica para surfar. “Todos os restaurantes servem o gallo pinto desde cedinho.”
Pode parecer meio brutal, mas o ser humano é capaz de se adaptar a coisas bem piores. “É bom, eu curti”, afirma Rodrigo, que já está com passagem comprada para voltar ao país em setembro.
A paternidade do gallo pinto é disputada entre a Costa Rica e a vizinha Nicarágua. Com pequenas mudanças aqui e ali, o prato é servido em todos os países da América Central e do Caribe —da Colômbia a Porto Rico.
Em Cuba, ele se denomina congrí ou moros y cristianos (“mouros e cristãos”, ganha um doce o leitor que adivinhar quem é quem); em El Salvador e Honduras, conhecem-no por casamiento; na Guatemala, casado; na Jamaica e em quase todo o Caribe (mesmo nos países que não falam inglês), chamam-no de rice and beans.
A combinação desses ingredientes extrapola as paragens tropicais das Américas.
Na Europa, é um ensopado muito popular no inverno —riso e fagioli na Itália, arroz con judías na Espanha. Na África ocidental, acompanha carnes salgadas ou defumadas de porco, boi ou peixe. Chama-se thiébou niébé no Senegal.
A receita mais esquisitona (para o paladar brasileiro, que fique claro) vem do Japão. O daifuku é um doce montado com moti (massa de arroz) e anko (feijão azuki). Mas voltemos à América Latina.
O gallo pinto é normalmente preparado com sobras de arroz e de feijão já cozidos. O tempero básico inclui alho e cebola refogados, e cada um pode improvisar a gosto com pimentão, pimenta-malagueta, tomate, coentro, salsinha.
De acompanhamento, ovos fritos ou mexidos, banana-da-terra, abacate, pão de trigo ou de milho, queijo e até mortadela. Com uma xícara de café, pois o dia está só começando.
O preparo do prato costarriquenho é muito simples, mas saiba: é quase impossível cozinhá-lo da forma tradicional aqui no Brasil. A razão é um condimento industrializado chamado Salsa Lizano, que não é importado por comerciantes brasileiros. Há quem diga que o molho inglês dá para o gasto na receita.
A fotógrafa e blogueira americana Amanda Biddle discorda. “O molho inglês não tem o aroma defumado da Salsa Lizano”, escreve no site “Striped Spatula” (stripedspatula.com). “Para compensar, acrescento um pouco de cominho à receita.”
Outros dizem ainda que você precisará viajar para a Costa Rica se quiser provar o gallo pinto autêntico. Leve roupa de banho e filtro solar.
Brasil
Arroz com feijão
Arroz
Agulhinha
Feijão
Preto ou carioquinha
Apresentação
Separados
Temperos
Alho e cebola. O feijão pode levar louro, bacon e/ou linguiça
Refeição
Almoço
Acompanhamentos
O que houver para o almoço
Variação regional
Baião-de-dois: arroz misturado com feijão-de-corda ou fradinho, queijo coalho, carne-seca e coentro. Comum no Norte e no Nordeste
Costa Rica
Gallo pinto
Arroz
Agulhinha
Feijão
Preto ou vermelho
Apresentação
Misturados
Temperos
Alho, cebola, pimentão, coentro e Salsa Lizano
Refeição
Café da manhã
Acompanhamentos
Ovos, abacate, banana-da-terra, queijo, mortadela, café
Variação regional
Rice and beans: na
costa caribenha, o gallo pinto é cozido com leite de coco, temperado com pimenta ardida e pedido em inglês
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.