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União talvez seja o que o Brasil precisa para melhorar visibilidade no 50 Best

Em 2018, apenas um restaurante brasileiro entrou no ranking, o D.O.M.

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Cristiana Couto
São Paulo

O italiano Osteria Francescana foi eleito, pela segunda vez, o melhor restaurante do mundo pelo 50 Best nesta terça-feira (19), em Bilbao (Espanha), onde aconteceu a cerimônia do prêmio.

Não causou surpresa. Desde 2013 a casa, comandada pelo chef Massimo Bottura, em Modena, está entre os três melhores da lista promovida pela revista inglesa Restaurant (venceu em 2016). El Celler de Can Roca (Girona, Espanha), que ficou com o segundo lugar, há anos integra a tríade, ao lado do novaiorquino Eleven Madison Park, que saiu da primeira posição em 2017 para a quarta este ano. 

Não se espera que, de um ano para outro, o reflexo do gosto dos votantes mude radicalmente. Ao comemorar a liderança, Bottura lançou palavras de ordem, como união. “Vamos mostrar ao mundo que somos mais do que a soma de receitas, e que somos parte da mesma revolução.”

Alex Atala em entrevista para a Folha em setembro de 2017; chef comando o único restaurante brasileiro entre os melhores do mundo - Eduardo Knapp/Folhapress

União talvez seja o que o Brasil precisa. Em 2018, o país não melhorou sua visibilidade no ranking. O D.O.M. de Alex Atala, o único brasileiro na lista dos 50 melhores, vem descendo sistematicamente, e ficou com o 30º lugar. Independentemente da posição —que satisfaz a vaidade de qualquer cozinheiro, o que vale mais é a representatividade de uma cozinha, de um país.

A união dos cozinheiros brasileiros, já verbalizada por Roberta Sudbrack em 2013, na celebração da primeira lista da América Latina, ainda não foi posta em prática como no México, com três premiados (Pujol, Quintonil e Cosme), e no Peru, entre os dez com o Central e o Maido, ambos de Lima.

O prêmio acontece desde 2002, e reúne votos eletrônicos de mais de mil jurados (entre jornalistas, chefs, donos de restaurantes e “foodies”) pelo mundo (organizado pelo prêmio em 26 regiões). 

Nos últimos anos, tem sido alvo de polêmicas. Em 2015, houve abaixo-assinado contra patrocinadores do prêmio, sob alegação de influência nos resultados. Marketing pesado dos países, presentes a jornalistas, lobby de chefs e a fácil identificação dos jurados estão entre as reclamações dos cozinheiros e restaurateurs —em geral, não contemplados pelo prêmio ou mal colocados.

A lista dos restaurantes entre 51º e 100º já foi revelada no último dia 12, com três restaurantes brasileiros: os paulistanos Maní (87º) e Casa do Porco (79º), e o carioca Lasai (100º).

Por fim, o fraco desempenho brasileiro no ranking também passa pela falta de apoio do governo na promoção dos chefs e de suas criações no exterior. Afinal, mobilização em torno de um projeto —o da cozinha brasileira, rica e variada, e com chefs jovens e talentosos—, ajuda a atrair o público interessado em gastronomia. É hora de fazer esse movimento e tornar o país foco de atenção gastronômica.

Cristiana Couto é jornalista de gastronomia e doutora em história da ciência pela PUC-SP 

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