Regra para agrotóxico divide ambientalistas, indústria, chefs e agricultores

Projeto que tramita no Congresso, PL do Veneno pode mudar normas do uso de defensivos

Produtos expostos em edição do festival Da Terra ao Prato
Produtos expostos em edição do festival Da Terra ao Prato - Rodolfo Goud/Divulgação
MATHEUS PRADO
São Paulo

O debate em torno do projeto de lei que pode alterar regras do uso de agrotóxicos (o chamado PL do Veneno) opõe empresas que dizem buscar mais competitividade no exterior e chefs, ambientalistas e ativistas que temem contaminação de alimentos.

Parte defende, como alternativa no controle de pragas, a expansão do cultivo orgânico, que nunca foi tão grande. Há diversas estratégias em curso.

Bel Coelho, chef do Clandestino, afirma que prioriza "qualidade e saúde" ao optar por esse tipo de alimento, além de evitar poluição com o transporte da produção de pequenos produtores do cinturão verde de São Paulo.

Cesar Costa, do Corrutela, defende a rastreabilidade. "É preciso conhecer o trabalho do produtor, e não ficar só da boca para fora. O que acontece no campo tem um impacto direto na comida."

Sua carta enxuta de parceiros inclui nomes como a Cooperapas (Cooperativa Agroecológica dos Produtores Rurais e de Água Limpa da Região Sul de São Paulo), em Parelheiros, que realiza importante trabalho agrícola sustentável na cidade.

No Le Manjue, do chef Renato Caleffi, uma horta orgânica própria, em Vinhedo (SP), supre grande parte das necessidades da casa. São verduras, legumes, plantas alimentícias não convencionais (pancs) colhidas semanalmente e levadas para o restaurante. Para buscar o que não consegue produzir, ele se alia a pequenos produtores. Há teste da certificação de seus parceiros comerciais todos os anos.

Outra forma encontrada por restaurantes para incentivar o trabalho de pequenos produtores de regiões próximas é realizar pedidos maiores ou comprar safras inteiras.

No Bio, restaurante de Alex Atala comandado pelo chef Raul Godoy, prevalece a negociação constante. "Alguns produtores perguntam o que mais utilizamos aqui e aumentam as quantidades do cultivo. Às vezes, compramos mais para garantir aquele ingrediente por mais tempo", diz Godoy.

O projeto de lei em tramitação no Congresso gera incertezas sobre o cultivo no país.

Um consenso entre acadêmicos que estudam modelos de plantio e distribuição de alimentos é que não é possível se livrar completamente dos agrotóxicos, especialmente em grandes culturas, e sim minimizar e controlar o uso.

Mas o projeto de lei 6299 —proposto em 2002 pelo então senador Blairo Maggi (hoje ministro da Agricultura)— sugere esvaziar órgãos federais.

A liberação de agrotóxicos também pode ser afetada. O diretor-executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal, Mário Von Zuben, diz que o desenvolvimento de um produto leva quase 11 anos e cerca de US$ 300 milhões de dólares (quase R$ 1,2 bilhão).

O tempo médio de espera do registro para que o produto chegue ao mercado gira em torno de oito anos. Em outros países grandes produtores de soja, como Argentina e Estados Unidos, cai para dois.

 

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