Plantas amazônicas viram iguarias da culinária japonesa. Taco mexicano-nordestino vira caldo de pinto. Os chefs participantes do Fartura estão colocando em prática os conceitos de diversidade e sustentabilidade do evento.
O festival de comidas do Brasil, do qual a Folha é parceira, está ocorrendo no Jockey Club de São Paulo até às 20h deste domingo (4).
Os portões abriram às 12h. Uma hora depois, o público lotava o Espaço Conhecimento para ouvir Hiroya Takano, do restaurante japonês Shin Suzuran, de Manaus, falar dos usos gastronômicos da folha de urtiga e do caule de vitória-régia.
Para a plateia e os curiosos que se aglomeravam de pé do lado de fora do estande onde era feita a apresentação, Takano contou sua história, da vinda do Japão, aos 8 anos, à descoberta das pancs (plantas alimentícias não convencionais).
Foi uma pincelada na história de imigração japonesa, seu estabelecimento no norte do país, e da biodiversidade brasileira. Também uma demonstração prática (seguida de degustação) do preparo do tempurá de urtiga e da salada de vitória-régia.
O professor e empresário Renato Ricardo, 70, ficou entusiasmado com a folha. “Quem diria que um dia eu iria comer folha de urtiga e gostar”, disse ele, que definiu o gosto do tempurá como algo entre peixe e vegetais.
“Se a gente souber aproveitar o que a terra dá, ninguém vai passar fome no mundo”, afirma Takano, que começou a pesquisar usos culinários de plantas não convencionais em 2015.
E se depender do chef João Diamante, também não vai passar (muito) frio.
Comandante do restaurante Minha Casa, no Mercado Municipal do Rio, ele trouxe seu taco nordestino para servir no festival gastronômico. Mas o sábado mais frio do ano estimulou a criatividade e o senso de oportunidade de Diamante.
“Sou carioca, aqui está muito frio. Quis oferecer um caldo de pinto [frango novo] e um creme de milho com galinhada e quiabo para dar um abraço, esquentar e dar conforto ao público”, conta.
Neste domingo, além do taco (sanduíche mexicano servido em tortilla de milho), Diamante está vendendo o caldo e o creme, feitos com os ingredientes que recheiam o taco: milho, galinhada, vinagrete de quiabo.
O recheio nordestino para a especialidade mexicana agradou o empresário Thiago Mendes, 39. O paulistano trabalhou seis anos em um restaurante de comida mexicana em Londres, e estava curioso para testar o sincretismo culinário de Diamante.
“Acertou na veia. O creme de milho substitui o feijão usado no México. É mais suave e funciona", diz Thiago.
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