Refeição das crianças pode ser um fator de ansiedade para pais

As regras de nutrição devem ser relaxadas em períodos de grande instabilidade, afirma pediatra e nutróloga

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São Paulo

Na casa da atriz Maíra Dvorek, mãe do Henrique, de seis anos, os doces estão liberados nos dias de semana. Antes do confinamento, era só nos fins de semana.

Também já foram servidos batatas fritas e cachorros quentes, o que nunca acontecia. Como ela não está mais fazendo feira, acabaram as hortaliças e as frutas.

Na ilustração, uma mulher está na frente de uma geladeira aberta. Ela está em cima de uma banqueta, que se equilibra em uma pirâmide de comidas variadas
Alimentação das crianças pode gerar ansiedade nos pais em período de quarentena - Catarina Pignato

“Mas estou tentando não avacalhar muito para não acabar esse período com o Henrique com diabetes, colesterol, essas coisas”, ela brinca. Refrigerantes, por exemplo, o menino continua sem saber o que é. “Quando eu tomo, falo que é bebida de adulto”, diz ela.

A comida das crianças é mais um fator de ansiedade para os pais durante a pandemia do coronavírus —maior para os que podiam contar até a crise com refeições na escola ou os serviços de uma cozinheira.

Mas, segundo a pediatra e nutróloga Giuliana Taralli, não é hora de estressar muito com isso. “Em períodos de grande instabilidade, ainda mais nesse momento de isolamento social, as regras de nutrição podem —e devem— ser relaxadas”.

Mais importante é fazer da refeição um momento agradável, leve e em família. “Tudo bem se não deu tempo de preparar uma comida perfeitamente saudável e a criança vai comer arroz com ovo pelo segundo dia seguido. Forçá-la a comer algo que ela não quer só faz aumentar a ansiedade, o grande vilão da alimentação saudável.”

A especialista em nutrição pediátrica Elaine Bento, no entanto, alerta para um problema que tem crescido muito na infância no Brasil, a obesidade infantil. “Com a criança afastada das suas atividades, isso tem um impacto no seu balanço energético, e se ela comer muito mais do que gasta a energia será acumulada.”

A família da jornalista Lígia Carvalhosa, mãe do Theodoro, de seis anos, e da Martina, de quatro, tem feito as três refeições do dia juntos. Antes, só conseguiam tomar o café da manhã os quatro ao mesmo tempo.

"É o momento em que nós nos desconectamos das demandas de trabalho, deixamos o celular longe e ficamos só nós”, diz ela.

Na casa de Lígia o cardápio não mudou tanto, só o macarrão e os doces que foram mais liberados, mas quase todas as refeições têm saladas —”e frutas o dia inteiro”.

Luana Bottini, uma psicóloga social e mãe da Maria Clara, de seis anos, e do Guilherme, de oito, tem um hortifruti do lado de casa e tem feito compras semanalmente. Desde que dispensou a cozinheira, quando começou o confinamento, ela mesma prepara as refeições para a família e tem tentado fazer comidas saudáveis e gostosas.

“Uma noite fiz fondue de queijo, na outra fiz x-salada com hambúrguer com menos sódio”, conta ela. “Mas entraram guloseimas no nosso cardápio que não tinha antes, como yakult, danoninho, sucos em caixas”.

A arquiteta Maria Fernanda Nascimento, mãe do Theo, de sete anos, mora em uma casa com cinco adultos e duas crianças. São ela, um irmão, a mãe, o pai, a avó, o filho e a sobrinha.

Ela e a mãe estão se revezando na cozinha nesse período, e as duas fazem muitas coisas em casa, como iogurte, granola, pão e bolos. “Mas produzi uma gaveta de chocolates para os momentos de faniquito das crianças, e temos feito cachorro-quente duas vezes por semana, antes não entrava salsicha de jeito nenhum em casa”, afirma a arquiteta.

Elaine Bento, a especialista em nutrição pediátrica, também mãe de dois filhos pequenos, Lucas, de seis anos, e Lorenzo, de três, sugere envolver as crianças nas preparações das refeições.

“O simples fato de quebrar um ovo ou misturar ingredientes pode ser uma descoberta incrível que faz com que a criança se aproxime do alimento”, afirma.

E a família deve negociar o que pode entrar no cardápio das crianças com elas mesmas. “No último domingo fizemos brigadeiro em casa e os meninos ajudaram a enrolar. Mas não puderam comer quantos quiseram. Negociamos o fracionamento durante a semana”.

O mais importante, na visão de Elaine, é ser o exemplo. “Não adianta querer que a criança coma um prato cheio de salada se ela nunca vê você comendo”. Do mesmo modo, se você passar o dia inteiro beliscando ou abrindo e fechando a porta da geladeira, vai ser isso que as crianças vão tender a fazer.

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