Brasil começou a produzir azeite há só uma década

Saiba como é feita a obtenção do líquido, que pode vir de azeitonas prensadas ou moídas

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São Paulo

“No século 16, os jesuítas já plantavam azeitonas para produzir o seu azeite”, afirma Marcelo Scofano. “Quando, depois de viver no Brasil, Dom João VI voltou para Portugal, mandou arrancar todas as oliveiras daqui para não fazerem concorrência ao produto português”.

Pouco mais de um ano depois, foi proclamada a independência do Brasil, mas as oliveiras só voltaram no fim do século, pela mão dos imigrantes. Esses, contudo, não souberam manejar o cultivo da árvore. “O nono e a nona, como todos italianos do sul, tinham oliveiras no quintal, mas não davam frutos”, diz o produtor gaúcho Paulo Marchioretto.

Criou-se, então, a ideia de que as condições de clima e solo no Brasil não permitiam o cultivo da oliveira. Só na década de 1930, essa hipótese começa a ser contestada.

Plantação de oliveiras da Olivas do Sul, no RS - Divulgação

Em 1935, em Maria da Fé, Minas Gerais, o português Emídio Ferreira dos Santos plantou mudas da árvore na fazenda que administrava e no centro da cidade. As árvores frutificaram, mas ele não chegou a extrair azeite. Seu pomar, no entanto, décadas depois serviu de base para os estudos da Epamig.

“Na Epamig de Maria da Fé, a pesquisa com o cultivo de oliveiras começou em 1955”, conta Nilton Caetano de Oliveira, que por oito anos gerenciou essas pesquisas.

“Mais de 150 variedades foram testadas. Delas, só seis se adaptaram: arbequina, arbosana, koroneiki, grappolo, manzanilla e ascolano”. Em 2004, quando Nilton chegou para gerenciar as pesquisas, ainda não havia se tentado extrair azeite por falta de equipamento.

“Em 2006, recebemos a visita de Ítalo Mostarda, um curioso”, conta. “Ele tinha uma empresa de restauração de máquinas em São Paulo e se ofereceu para criar uma prensa para de extração de azeite. Topei na hora. Assim, em 2008, extraímos o primeiro azeite da história do país.”

Mais ou menos na mesma época, a Embrapa ( Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) já vinha pesquisando a produção de azeite e começavam a surgir iniciativas privadas.

“Quando resolvemos plantar, em 2006, tinha alguns olivais pelo país, mas nós fomos os primeiros a lançar um azeite comercial no país em 2010”, diz Vani Ceolin Aued, sócia do azeite Olivas do Sul.

Azeitonas colhidas na plantação da Olivas do Sul, no RS - Divulgação

Ela e o marido, José Alberto Aued, funcionários públicos aposentados, plantaram 11 hectares de oliveiras em seu sítio em Cachoeira do Sul, próximo a Santa Maria (RS). Hoje o casal tem também uma fazenda em Encruzilhada do Sul, na Serra do Sudeste, RS. No total, têm 127 hectares de olivais.

Muitos produtores do país são casais de profissionais, com carreira de sucesso, que viram na olivicultura um projeto de futuro. É o caso, por exemplo, da jornalista Bia Pereira e do publicitário Bob Vieira da Costa, que fazem o Sabiá. Eles começaram produzindo na sua fazenda em Santo Antônio do Pinhal, São Paulo.

Pouco depois, compraram também uma fazenda em Encruzilhada do Sul, Rio Grande do Sul, especialmente para a produção de azeites.

Garrafas especiais do azeite nacional Sabiá - Divulgação

Como é a produção?

O azeite extravirgem é o produto mais nobre que pode ser extraído da azeitona. Para que ele receba essa classificação, é importante que o produtor siga uma série de etapas

1 - As azeitonas devem ser colhidas quando ainda não estão muito maduras. Isso garante aromas frescos, picância e amargor que mudam um pouco de acordo com a variedade. Elas não podem ser machucadas, o que pode provocar oxidação (ranço) e/ou fermentação (aroma de azeitona em conserva)

2 - Após colhidas, devem ser transportadas para um local fresco. E a extração deve começar o quanto antes. O ideal é no máximo em 24 horas

3 - No lagar (fábrica), passam por uma seleção para separar folhas e galhos

4 - Em seguida, são moídas. Lagares mais antigos usam prensas

5 - Depois, o líquido é separado do bagaço. E o líquido separado em óleo e água. Em geral, isso é feito por centrifugação. Mas pode-se usar também a decantação

6 - O produto final, em geral, é filtrado antes de engarrafar para eliminar impurezas. Mas existe um estilo de azeite não filtrado, o novello

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