Se nos últimos meses você sentiu mais vontade de procurar conforto em sabores clássicos —e até nostálgicos—, como algodão doce ou churros, ou de temperos que remetam a outras culturas, como um frango ao molho sweet chilli (a pimenta agridoce), saiba que não está sozinho.
Essas são duas das principais tendências de sabor que surgiram ao longo do último ano. É o que revela o último relatório Global Taste Trends divulgado pela Kerry, empresa multinacional da área de sabor e nutrição.
“A pandemia de Covid-19 certamente teve um impacto no que o consumidor procura”, afirma Pedro Tatoni, gerente de marketing da Kerry para o Brasil e Cone Sul.
Ele explica que, no Brasil, foram dois os caminhos que o público encontrou para lidar com estes momentos de incerteza: um foi buscar alimentos que trazem sensação de conforto e acolhimento; o outro, o que consola a ânsia de não poder viajar. “Caminhos por um lado confortáveis e, por outro, exploratórios.”
“Com isso, temperos como chimichurri e cheddar ficaram em alta novamente. Sweet chilli, de pegada oriental, e páprica também apareceram. Do lado da nostalgia, vimos aumentar a procura por sabores caseiros e nostálgicos, como chocolate ou guaraná”, afirma.
Tatoni explica que o relatório de tendências de sabor é produzido há quatro anos pela Kerry, mas que este é o segundo ano em que ele é divulgado para o público —ele pode ser acessado pelo site da empresa (kerry.com).
O documento mapeia os principais sabores na América do Norte, América Latina, Europa e região da Ásia-Pacífico, Oriente Médio e África, e ressalta como eles variam e viajam através dessas regiões.
Além das macrotendências de sabores chamados de nostálgicos e exploratórios, o estudo avalia o que é chamado de sabores sazonais (alimentos com gosto de panetone que surgem na época do Natal, por exemplo), tentadores e inovadores.
Também aparecem duas categorias que demonstram que há uma preocupação do consumidor com a saúde: a batizada de dulçor aceitável —que, no Brasil, traz produtos adoçados com mel ou xilitol, por exemplo—, em uma tentativa de gerenciar a ingestão de açúcar, e o que foi denominado de “healthy halo”, algo como “aura saudável”.
É o que faz o consumidor escolher o suco verde ou com palavras como “detox” nos corredores do supermercado ou no menu de restaurantes.
“Usamos essa pesquisa nas conversas com nossos clientes para poder fomentar a inovação”, explica Tatoni.
Entre os produtos que a Kerry faz estão aromas e sabores para redes de alimentação e fast-food, como McDonald’s e Burger King. “Esse material dá base para dizer coisas como ‘o tempero tailandês apareceu muito no último ano’”, afirma.
Ou seja: são temas que já estão no mercado e que podem, ou não, cair no gosto do público em geral. “É muito legal ver como os sabores aparecem e como eles se consolidam”, analisa Tatoni. “Ver o que é ‘mainstream’ (algo como ‘popular’) no Brasil mostra um pouco do que é a cultura brasileira”, acredita.
Ele cita o exemplo do chimichurri, que está em uma “crescente evolução”. “Aparecia em uma churrascada, de repente está em uma maionese, em um salgadinho...”, diz.
Outro, é o “sweet chilli”, de sabor agridoce, que aparece em geleias de pimenta. “É algo que não existia na culinária brasileira, mas que tem ganhado força. Acho que conecta com a coisa do dadinho de tapioca”, avalia.
Tendências de sabor no Brasil em 2021
Nostalgia
algodão doce, brigadeiro, brownie, cereja, cookie, churros, groselha e tutti-frutti
Sabores sazonais
cookies & cream, cravo da Índia, maçã com canela e panetone
Sabores tentadores
açaí, beterraba, lemon pepper, pink lemonade, spirulina e piña colada
Dulçor aceitável
açúcar do coco, cacau, canela, mel e xilitol
Exploratórios
crème brûlée, feijoada, guacamole, habanero, limão-siciliano e tiramisu
Sabores inovadores
alho negro, cajá, ginger ale, lichia, moscow mule, romã, umbu e wasabi
Healthy Halo
alho, alho-poró, cardamomo, chá verde, cúrcuma, gengibre, guaraná, hortelã, laranja, limão e manjericão
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.