'Não tomava vinho em casa, tomava Coca-Cola', conta sommelier

Gabriela Monteleone lembra sua trajetória até chegar a wine director do D.O.M.

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Alexandre Putti
São Paulo

Abrir um vinho às 11 da manhã de uma quarta-feira parece uma ideia ousada, mas se justifica quando a dona da garrafa é uma das mais respeitadas sommeliers do Brasil.

Do escritório montado em seu apartamento, em São Paulo, Gabriela Monteleone, 38, deu entrevista pelo Zoom com uma taça na mão e depois de propor “um brinde à vida e ao vinho”.

Gabriela é head sommelier e wine director do restaurante D.O.M. desde 2018. Começou a vida profissional como garçonete em um bar na Vila Madalena.

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Gabriela Monteleone, head sommelier e wine diretor do D.O.M - Divulgação/Gil Inoue

Na época, a jovem se encantou com a área de serviços e quis cursar hotelaria, mas a decisão não se sustentou por muito tempo.

“Meu pai, um aquariano visionário, me avisou que a Anhembi Morumbi havia iniciado um curso de gastronomia, que era mais minha cara. Eu tinha 20 anos na época e segui o conselho dele. Migrei de curso e me apaixonei”, conta.

Em 2005, Gabriela conseguiu estágio no antigo restaurante Acqua Santa. Ali, encontrou o que se tornaria sua especialidade: o vinho.

“Não tomava vinho em casa, tomava Coca-Cola. A virada de chave foi quando comecei a estagiar. Eu ficava muito mais tempo na sala de vinhos do que na cozinha. O que era ótimo, porque eu podia provar qualquer garrafa desde que estivesse lendo sobre aquele produto. E aí foi um caminho sem volta”, lembra.

Já em um relacionamento sério com a seção de vinhos, Gabriela recebeu um convite. A dona do restaurante propôs uma viagem à Itália para conhecer os produtores dos rótulos que a casa comprava.

Depois de um mês de estudos no país, voltou “com os dois pés na profissão de sommelier”. “Eu tinha uma matéria de vinhos na faculdade, então não senti a necessidade de fazer uma formação. Comecei a estudar por conta e usar meu trabalho para aprender, o que foi enriquecedor.”

Foi um caminho sem volta. A partir dali, Gabriela trilhou sua carreira em casas como Ici Bistrô, Pomodori, Gero, do Grupo Fasano, e o Grupo D.O.M., onde trabalhou fixo por quatro anos, saiu em 2014 e, em 2018, voltou para não sair mais.

A pausa teve um bom motivo: a chegada do filho Francisco. “Decidi sair para ficar mais tempo com o meu filho. E isso acessou um outro botão, que foi começar a trabalhar como consultora, dando palestra, fazendo degustação, adega privada e algumas cartas de restaurante”, comenta.

“A jornada de trabalho ainda é muito difícil para as mulheres, principalmente para aquelas que têm filhos. As jornadas são duplas”, avalia Gabriela, que, na entrevista, se dividiu entre as respostas e conversas com Francisco, que brincava na sala ao lado.

“Tem que existir uma rede de apoio para isso, e eu tenho esse privilégio. Tenho minha mãe e o pai do Francisco, que divide a semana comigo, possibilitando que eu foque no trabalho.”

Durante a pandemia do novo coronavírus, os restaurantes fecharam e Gabriela se viu sem trabalho. Os planos pessoais, então, saíram do papel.

Nasceu, assim, o “Tão Longe, Tão Perto”, projeto em que o cliente compra um kit de garrafas e, via Zoom, tem a oportunidade de degustá-las com os produtores e receber explicações sobre o tipo da uva e o processo de fabricação, por exemplo.

O projeto, que reuniu mais de 60 profissionais de diversos lugares do mundo, vai virar livro: “Conversas acerca do vinho” tem previsão de lançamento para setembro.

Gabriela também lançou recentemente o “Vinho de Combate”, rótulo de três litros acondicionados em uma bolsa plástica , disposto em uma caixa de papelão. O nome faz referência à expressão com que os restaurantes batizam os vinhos mais pedidos da casa.

“É um envasamento prático, que é mais reciclável e sustentável que um vidro. Reciclagem gera menos monóxidos de carbono do que vidro”, explica.

“O vinho pra mim é algo de muita potência. É um objeto de transformação gigantesca através do diálogo. O estilo, a acidez, a construção econômica. E pode ser algo muito transformador se a gente fizer com o mínimo de respeito. Ele tem um papel central na minha vida.”

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