'Joy of Cooking', a grande 'bíblia' de receitas americana, completa 90 anos

Um dos mais vendidos do gênero nos EUA, título ainda não tem tradução em português

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São Paulo

Em uma cena de "Julie e Julia", filme de 2009 dirigido por Nora Ephron, a cozinheira Julia Child toma chá da tarde com um grupo de senhoras: suas duas amigas e parceiras no projeto de escrever um livro, e a autora de um título já consagrado, convidada à reunião justamente para dar dicas às escritoras novatas.

Irma S. Rombauer, uma dona de casa de St. Louis, no Missouri, ganhou fama depois que, aos 52 anos, usou US$ 3 mil recebidos do seguro de vida do marido, que cometera suicídio alguns meses antes, para publicar seu "Joy of Cooking".

capa do livro clássico "Joy of Cooking", muito popular no mundo todo, porém nunca publicado no Brasil.
Capa do livro clássico 'Joy of Cooking', popular no mundo todo, porém nunca publicado no Brasil - Reprodução

O livro de receitas foi um fenômeno tão grande nos Estados Unidos que, além de vender milhões de cópias, ainda influenciou Julia Child a escrever, em 1961, seu renomado "Mastering the Art of French Cooking". Isso porque, tenha ou não tomado chá com Ira na vida real, Julia entendeu, via experiência da antecessora, que havia um caminho para publicações do gênero na América daquela época.

A primeira edição de "Joy of Cooking" completa, em 2021, 90 anos de vida. De lá para cá, já foi editado outras nove vezes com atualizações, modernizações e adições à sua já nada modesta extensão da época em que foi escrito.

O livro merece o panteão dos cookbooks americanos não só pela inegável qualidade —"Joy of Cooking" está para os gringos assim como "Dona Benta" (1940) está para os brasileiros—, mas também pelas impressionantes histórias de bastidores que o acompanham.

Além da trágica morte de Edgar Rombauer, advogado que sucumbiu aos efeitos da Grande Depressão e deixou Ira S. viúva, há, por exemplo, rumores de que as 500 receitas dispostas na edição inaugural não chegaram a ser todas testadas —fato que, confessado pela Ira ficcional em "Julie e Julia", deixa as senhoras e suas xícaras de chá perplexas.

As editoras de "Joy of Cooking" também adicionam peculiaridade à trama. A primeira, que recebeu os tais US$ 3 mil para rodar a obra, nunca imprimira um livro na vida, apenas etiquetas para lojas de sapatos finos e para o fabricante do enxaguante bucal Listerine.

Já a segunda, que lançou uma versão aumentada em 1936, gerou um quiproquó legal que se arrastou por anos: ao assinar o contrato sem o auxílio de um advogado ou agente literário, a autora cedeu os direitos autorais de ambas edições —a nova e a primeira— à Bobbs-Merrill Company.

Os esforços de marketing da editora, no entanto, quase compensaram o estrago ao gerar vendas expressivas para a época. Era o início da glória quase centenária de "Joy of Cooking".

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