Morre 'seu' Ático, maître do Fasano, Parigi e Ca'd'Oro

Famoso pela discrição, ele atuou nos salões ao longo de 67 anos

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São Paulo

São Paulo perdeu nesta segunda-feira (17) um personagem emblemático de sua gastronomia, o maître Ático Alves de Souza, aos 95 anos. Natural da baiana Monte Santo, um dos seus primeiros trabalhos em São Paulo, onde chegara em 1949, foi com a família Fasano, a cujos redutos voltaria mais tarde e onde encerrou sua longa carreira.

Mas não foi na Confeitaria Fasano do centro da cidade, onde seu trabalho era no escritório, que ele se tornou o profissional emblemático do serviço que viria a ser: foi no restaurante Ca’d’Oro, ali pertinho. Sob a tutela do proprietário Fabrizio Guzzoni, Ático se encontrou naquele que seria seu ambiente de eleição dali para a frente: o salão, em contato direto com os clientes.

Ático, mâitre da alta gastronomia paulistana, em 2016 - Karime Xavier/Folhapress

Ali fez carreira começando no posto de ajudante de garçom até chegar a maître: quanto mais o restaurante, no hotel homônimo, se tornava o mais sofisticado da cidade, mais ele se sobressaía, numa ascensão que, só ali, atravessou quase quatro décadas.

Já os últimos 30 anos foram dedicados ao grupo Fasano —primeiro na casa principal, e depois no Parigi.

Neste, sua função mais festejada era servir o bollito misto –o cozido italiano de várias carnes, que, como nos tempos do Ca’d’Oro, era trazido à mesa num carrinho de prata administrado pelas mãos atenciosas do festejado maître, famoso também pela discrição, de resto fundamental tendo em vista a poderosa gama de personalidades —da política, da economia, e ainda da fútil alta sociedade— que ele serviu por tanto tempo.

Quase sempre chamado de "seu Ático" pela reverente clientela, aos 90 anos ele já havia sido aposentado havia tempos (e várias vezes) pelo proprietário da casa, Gero Fasano –mas, se recusava a parar de trabalhar.

Continuava comparecendo ao restaurante, indo uma ou duas vezes por semana para honrar seu lugar ao lado do reluzente carrinho do cozido.

Quando a idade pesou mais, ele finalmente se retirou. Desde 2019 não era mais visto no salão onde brilhou por tanto tempo –foram 67 anos espalhando atenção e conforto a tanta gente.

Na última sexta-feira (15) foi hospitalizado para tratar uma fratura no fêmur.

De volta à casa, sofreu uma parada respiratória, tornando ainda maior o vazio que ele já deixara na necessária hospitalidade tão vital a nossos restaurantes.

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