Fasano lança livro e planeja restaurante de peixes no Itaim

Aos 60 anos, empresário da alta gastronomia comanda grupo com 26 restaurantes e 9 hotéis

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São Paulo

De volta a São Paulo após um período estudando cinema em Londres, Gero Fasano, aos 20 anos, decidiu abrir um restaurante. Queria retomar a tradição iniciada com o bisavô Vittorio, que havia fundado a Brasserie Paulista no centro de São Paulo, em 1902, e perpetuada com o avô, o nonno Ruggero, que lançou a confeitaria e restaurante Fasano no final da década de 1930.

O pai de Gero, Fabrizio, que havia se dedicado a outros negócios, como a indústria de bebidas, tentou convencer o filho a mudar de ideia, mas, diante da insistência do rapaz, decidiu apoiá-lo.

Foi nesse momento, em 1982, que ele levou um susto ao descobrir que o nome Fasano não pertencia mais à família. Nos anos 1960, o nonno tinha vendido o negócio para a Liquigás e a marca entrou no pacote.

Caminhonetes de entrega da confeitaria e restaurante Fasano nos anos 1950 - Divulgação

Em uma reunião, o presidente da empresa de gás disse a ele: "Tenho uma boa e uma má notícia. A má é que não posso te dar a marca, a boa é que posso vender". Àquela altura, os Fasano estavam à beira da falência e seria impossível readquirir o nome por um valor alto. Conversa vai, conversa vem até que o empresário cedeu: "Te vendo pelo preço de um sorvete".

Essa é uma das histórias do livro recém-lançado "Fasano dal 1902", com textos de Gero Fasano, do jornalista Luciano Ribeiro e do consultor financeiro e também jornalista Geraldo Forbes. A publicação é dedicada ao pai, Fabrizio.

Embora o grupo esteja completando 120 anos, não foi essa a motivação para a publicação. "O que me moveu foram as coisas pelas quais eu passei [ele se refere ao câncer de fígado que o levou a fazer um transplante, em 2020] e, sobretudo, os meus 60 anos de vida e 40 de profissão", diz o restaurateur, como gosta de ser chamado.

O empresário e restaurateur Gero Fasano, que completou 60 anos em abril - Eduardo Knapp - 14.mai.2021/Folhapress

Ele também conta que aproveitou o livro para "colocar alguns pingos nos is" nas histórias sobre a expansão do grupo, hoje formado por 26 restaurantes e nove hotéis, baseados principalmente no Brasil, mas com braços nos EUA e no Uruguai.

Há quem pense, afirma Fasano, que se trata de uma herança, um patrimônio de alta gastronomia italiana que vem se transferindo de geração para geração. "Não é!", enfatiza.

"O restaurante do nonno [Ruggero] não tinha pratos italianos, era cozinha internacional, como se falava na época. Quer ver uma coisa engraçada? Olha isso [ele mostra no celular a reprodução de um anúncio do Auto-Grill Fasano, veja abaixo]. Tem alguma coisa a ver com o Fasano de hoje? Essa foi a última versão do restaurante do meu avô antes de fechar. ‘Mesmo de camisa-esporte, você será bem recebido!’", Gero lê um trecho da propaganda da década de 1960.

Anúncio do restaurante Fasano na década de 1960, quando estava instalado na avenida São Gabriel, no Itaim Bibi, em São Paulo - Reprodução

Curiosamente, o que fez a fama do Fasano não foi a gastronomia, mas os casamentos requintados, os jantares de gala e os shows que aconteciam no jardim de inverno instalado no Conjunto Nacional, na avenida Paulista, nos anos 1950.

"Meu avô casou 80% dos endinheirados paulistanos na época. Eisenhower [presidente dos EUA de 1953 a 1961] esteve num dos jantares, Nat King Cole e Sammy Davis Jr. cantaram lá", conta o empresário.

Em meados do século passado, expoentes da política e da cultura dos Estados Unidos vinham ao Fasano. Agora é o Fasano que vai aos EUA. Em março do ano passado, o grupo abriu o residencial de luxo Fasano Fifth Avenue, em Nova York, fruto da parceria com a empresa do setor imobiliário JHSF.

No final de fevereiro deste ano, inaugurou o restaurante Fasano, na rua 49, quase esquina com a Park Avenue. O restaurateur demonstra entusiasmo com os primeiros meses de atividade: "Não imaginava a proporção que tomou, a procura, as críticas, o boca a boca".

Ilustração de Filipe Jardim mostra interior do restaurante Fasano, em São Paulo - Reprodução

O início bem-sucedido não significa, porém, que ajustes não tenham sido necessários. "Me assustei no comecinho ao notar como São Paulo é mais italiana do que Nova York. O macarrão está incutido na alimentação do paulistano, seja ele filho de italiano ou não. Lá não é assim, as massas e os risotos não saíam com tanta frequência", lembra.

"Cheguei à conclusão de que as pessoas, quando vão a um restaurante com uma proposta gastronômica, preferem pedir matérias-primas que normalmente essas casas servem, como king crabs ou lagosta. Comecei, então, a fazer risotos e massas com esses ingredientes, que passaram a vender muito."

O próximo passo nos EUA é um hotel em Miami, com previsão de abertura em 2024, também um empreendimento com a JHSF.

Bem antes disso, no entanto, o grupo vai ampliar seus domínios na capital paulista. Em parceria com a construtora Even, abre em novembro deste ano um complexo no Itaim Bibi, com torre residencial, hotel e restaurante.

O empresário planeja para o bairro um casa dedicada a peixes e frutos do mar, o Fasano al Mare. "Se confirmada essa escolha, vou para a Itália e trago mais um chef para cá, alguém que seja especializado nesse tipo de cozinha."

Fasano versus Michelin

Em sua atual avaliação dos restaurantes de São Paulo, o Michelin indica duas casas da cidade com duas estrelas e sete com uma —três estrelas é a cotação máxima do guia francês. Nenhum desses nove estrelados paulistanos pertence ao grupo Fasano.

O Michelin não se impressiona com os restaurantes da capital paulista sob o comando de Gero Fasano. Ele, por sua vez, não demonstra simpatia pelo guia francês. "Não sou brigado com o Michelin, mas confesso que não é um dos meus guias preferidos, sobretudo, quando eu estou na Itália. O problema é que o Michelin boicota a Itália. Por quê? Por causa da Pirelli [fabricante de pneus, que concorre com a Michelin]", afirma o restaurateur.

"Na Itália inteira, eles [Michelin] conseguem achar cinco restaurantes estrelados e, só em Tóquio, acham cinco vezes isso", diz ele. "Não acho correto o que fazem na Itália e não acho correto ser julgado por franceses."

Em sua avaliação mais recente, o Michelin destaca 372 casas estreladas em toda a Itália. Em Tóquio, são 202 restaurantes; no Japão, 427. Ou seja, se o critério é estrela no Michelin, a Itália perde para o Japão, mas supera Tóquio.

Fasano dal 1902

  • Onde À venda apenas nos hotéis do grupo Fasano a partir de 15 de junho
  • Preço R$ 250 (160 páginas)
  • Autor Luciano Ribeiro e Gero Fasano
  • Editora DBA
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