Festival do Fartura volta às ruas de Tiradentes com homenagem à Inconfidência

Edição vai até o próximo domingo (28); no mês que vem, evento chega a SP

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Tiradentes (MG)

Em uma rua da mineira Tiradentes, amigos conversam sobre cacau, enquanto outros passam carregando suas taças de vinho na mão. Perto dali, Carmem Virgínia, a dona Carmen, pergunta sobre o ponto da cebola enquanto prepara um arrumadinho em meio à praça das Forras.

Noutra, na da Rodoviária, há fila para experimentar um arroz de cupim casqueirado, também feito ao vivo, e com porções servidas pelo próprio chef.

Após dois anos com diferentes formatos impostos pela Covid-19, o Festival Cultura e Gastronomia de Tiradentes voltou, na última sexta (19), a ocupar as ruas da cidade. No primeiro ano da pandemia, foi online e, no segundo, híbrido (presencial e online).

"Você teve acesso à comida dos chefs [na pandemia], que se reinventaram, montaram delivery, mas não ao chef, a ver a pessoa cozinhando, sentir o cheiro", afirma Carolina Daher, curadora do evento. "Por isso, esse festival está tão especial. As pessoas voltaram a se abraçar, a dividir comida, se sujar de comida na praça, isso é 'bão' demais."

Peito de boi braseado, acompanhado de musseline de mandioca, pó de quiabo, cebola roxa crítica e glace da casa
Peito de boi braseado servido em jantar especial no Bistrô Casa Direita, na 25ª edição do Festival de Cultura e Gastronomia de Tiradentes, em Tiradentes, MG - Nereu Jr./Divulgação

Realizado pelo Fartura, o festival chega neste ano à sua 25ª edição e se estende até o próximo domingo (28). Até lá, estima-se que em torno de 60 mil pessoas devam passar pelo centro histórico do município, que tem pouco mais de 8.000 habitantes.

Segundo o diretor-geral do Fartura, Rodrigo Ferraz, projeta-se que o festival tenha um impacto de cerca de R$ 90 milhões na economia da região.

"A gastronomia é uma grande ferramenta de desenvolvimento econômico e social. A cidade tem um crescimento de 10% ao ano. E a questão do turismo, como fator de investimento e retorno, é muito grande."

Ao todo, são cerca de 200 atrações, entre gastronômicas e culturais, concentradas sobretudo em três pontos do centro. Na gastronomia, há jantares especiais nos quais chefs de restaurantes da cidade recebem convidados de casas de São Paulo, João Pessoa (PB), Salvador (BA), Belo Horizonte (MG) e Visconde Mauá (RJ) —todos estão com ingressos esgotados.

Um desses jantares, marcado para a próxima sexta (26) no restaurante Tragaluz, terá a participação de Jefferson Rueda, d'A Casa do Porco, eleito o sétimo melhor do mundo, segundo o 50 Best, uma das principais premiações da gastronomia mundial.

No dia seguinte, ele é aguardado na praça da Rodoviária, onde deve preparar uma receita ao vivo.

Nas praças, estão as barracas em que as receitas de chefs podem ser experimentadas por até R$ 45, como o pastel de angu.

"Ele é uma coisa muito mineira, a massa é preparada com o fubá do angu", ensina Carolina. "É muito nosso, e ganhou diferentes recheios, tem de leitão, tem de queijo." Outro exemplo é o sanduba de frango à milanesa com maionese de quiabo do Pacato.

À sua maneira, todas as receitas, tanto as preparadas nas praças quanto nos restaurantes, remetem à Inconfidência Mineira, tema da edição deste ano. A conspiração, do fim do século 18, propunha a emancipação de parte do território brasileiro e teve Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, como um dos seus principais nomes.

"A Inconfidência traz o mineiro como pioneiro na questão da liberdade, da criatividade", diz a chef Morena Leite, do Capim Santo. Ela participa do festival desde 2001 e, em 2020, tornou-se curadora.

O desafio posto aos chefs era que expressassem isso em seus pratos, mas relacionados à cozinha mineira de quintal —ou seja, uma comida com ingredientes que possam ser cultivados no quintal de casa, como ora-pro-nóbis e taioba.

Assim como em Minas, os temas liberdade e criatividade também devem se repetir na edição nacional do festival na cidade de São Paulo entre os dias 23 e 25 deste mês. O evento será realizado no Museu da Casa Brasileira, nos Jardins, zona oeste.

A ideia, segundo Morena, é reunir na cidade chefs de todos os estados e do Distrito Federal. Suas receitas serão preparadas no jardim do museu, com quiosques divididos pelas regiões do país: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste.

Também serão organizados jantares especiais, nos quais são recebidos convidados, além de aulas e cozinhas interativas.

Nessa edição, uma novidade é a presença de chefs em cada uma das cinco regiões da capital como parte do Bom Prato, programa do governo paulista com refeições vendidas a R$ 1.

No museu, também devem ser expostos produtos que têm origem em todos os estados, mas que podem ser encontrados à venda em diferentes pontos da capital paulista.

Os itens resultam de uma expedição feita na cidade no mês passado. "Fiquei quatro dias em São Paulo porque eu queria encontrar um ingrediente de cada estado para falar para o paulistano: 'Não tem desculpa, dá para comprar aqui'", conta Carolina Daher. Um exemplo disso é um café de Rondônia.

Caso se interesse por algum deles, os frequentadores terão acesso ao ponto da cidade em que o produto pode ser adquirido.

Além de São Paulo, Belo Horizonte deve receber uma edição do Fartura ainda neste ano.

O jornalista viajou à convite do Fartura

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