"Quero que você invada", afirma rapaz que manteve duas reféns; ouça
A Polícia Militar de São Paulo disponibilizou neste sábado à imprensa um DVD com gravações da negociação com o ajudante de produção Lindemberg Fernandes Alves, 22. As gravações não esclarecem, porém, a principal dúvida sobre o caso: se os policiais entraram no apartamento após ser feito um disparo ou se o tiro ocorreu após a invasão do imóvel, informa a edição deste domingo (19) da Folha de S.Paulo.
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A polícia diz que só entrou quando Eloá foi alvejada, mas, pelas imagens das TVs não é possível ouvir o disparo. Jornalistas também afirmam ter escutado tiros só após o estrondo.
Nas imagens da televisão é possível ouvir três disparos após o clarão. A polícia afirma que dois tiros atingiram Eloá. O terceiro, Nayara. As outras duas cápsulas encontradas seriam de um tiro feito de manhã que não motivou ação da PM e um outro, na ação (teria acertado um escudo).
Neste sábado, policiais civis e peritos espalhavam a informação de que não houve tiro antes da invasão, baseado em uma suposta conversa com Nayara, no hospital, e outra com Lindemberg. Nada está no papel. PMs dizem que é mentira e que o conflito em razão da greve dos policias contaminou o caso.
DVD
O DVD com as negociações contrasta momentos de tranqüilidade e de extremo nervosismo. Na terça-feira, segundo dia de cárcere, o rapaz diz: "vou matar ela e me matar" e "não tenho nada a perder". Naquele mesmo dia, o rapaz se compromete a resolver a questão em 40 minutos desde que a polícia religasse a luz do imóvel.
O negociador Adriano Giovanini responde que "você é responsável por essas vidas. Estamos te estendendo a mão." Lindemberg retruca: "não vou sair daqui vivo". Durante essa conversa é possível ouvir uma voz feminina gritando "Pára, pára".
Na manhã de 16 de outubro, o penúltimo dia, Lindemberg conversa com o irmão Douglas e se compromete a sair com Eloá na manhã de sexta. Ao ser questionado se dá a sua palavra, responde bastante nervoso que "já falei que dou". Posteriormente, às 12:46, conversa tranqüilamente com a mãe de Naiara, Andréa, e diz que "sua filha já vai descer". A mãe da menina responde que "acredito muito em você, sempre acreditei".
Naquele momento, a polícia dizia que a menina não estava lá como refém.
Na sexta à tarde, em dado momento, Lindemberg dizia que não poderia falar com o negociador, pois tinha de "desenrolar com essa mina primeiro. Vou catar até o íntimo dela" [queria descobrir algo].
Indagado se era a hora de falar com ela sobre esse assunto, responde: Quando vai ser o momento? Quando chegar na cadeia". A conversa prossegue e ele diz: "a coisa tá piorando".
Na última gravação disponibilizado, pouco antes do desfecho, o rapaz diz: "invade essa porra logo". O negociador responde que não tem nada disso. Ele replica: "quero que você invada. Tô falando para você invadir". Na seqüência, pede ao policial que saia da negociação. "Sai mano, fala que tá cansado."
Ouça, abaixo, trechos das negociações:
Quarta-feira, 15: irmão de Eloá conversa com Lindemberg
Quarta-feira, 15: Lindemberg reclama do comportamento de Eloá
Quarta-feira, 15: Lindemberg pede a negociador comida para Eloá
Sexta-feira, 17: Lindemberg diz que há um "anjinho" e um "diabinho" lhe dizendo o que fazer
Sexta-feira, 17: Rapaz reclama de Eloá com o promotor Augusto Rossini
Sexta-feira, 17: Lindemberg pede a negociador para que saia do caso
Sexta-feira, 17: Rapaz diz que é uma pessoa "sem coração"
Sexta-feira, 17: "Gente lá fora pagara por isso", diz Lindemberg
Sexta-feira, 17: "Faço isso por amor"
Invasão
A Polícia Militar afirma que decidiu invadir o apartamento após o rapaz atirar. "O que provocou a invasão foi o próprio agressor. O Gate não atirou. Fizemos de tudo para preservar a vida dos três", disse neste sábado o coronel Eduardo Félix, comandante do Batalhão de Choque da PM.
A adolescente saiu do apartamento ferida na virilha e na cabeça. Uma amiga que também estava no imóvel ficou ferida por um tiro no rosto, foi operada e não corre risco de morte.
Segundo o coronel, Alves deu o primeiro tiro e, quando a equipe do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) entrou no apartamento, o rapaz descarregou a arma.
Félix defendeu a atuação da equipe no desfecho do caso. "Não houve erro. Todas as decisões foram tomadas em equipe", afirmou o PM.
Preso, o ex-namorado da adolescente foi levado neste sábado para o CDP (Centro de Detenção Provisória) de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. Segundo a polícia, ele foi levado ontem à noite a uma delegacia de Santo André, mas se recusou a falar sobre o caso.
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