Mais da metade da cocaína que entra no Brasil tem 'DNA' boliviano
A Bolívia é a origem de 54,3% da cocaína que entra no Brasil. A partir da análise química da droga apreendida no país, a Polícia Federal descobriu a procedência exata do que circula pelo país.
Cocaína vendida no Brasil é 'batizada' até com vermífugo
De acordo com os resultados do projeto da PF, em seguida aparece o Peru, de onde partem 38% da cocaína que vem para o Brasil; e a Colômbia, origem de 7,5% da droga.
As análises foram realizadas a partir das apreensões de 2010 e 2011: 51 toneladas, no total. Os resultados foram enviados à Coordenação de Repressão a Drogas.
O exame que é feito pelos peritos na droga apreendida permite chegar à origem da folha de coca, que é a matéria prima da cocaína.
Os peritos procuram pela truxilina, um elemento natural que varia de acordo com altitude, exposição ao sol e local onde a coca é plantada.
A partir dessa "assinatura" natural é possível saber se a droga é boliviana, peruana ou colombiana.
O trabalho de laboratório serve também para a Polícia Federal montar sua estratégia da proteção de fronteiras -focando nas principais portas de entrada de drogas no Brasil-, estabelecer rotas do tráfico e produzir provas contra os traficantes.
Lula Marques-26.jun.2012/Folhapress | ||
Adriano Maldaner, responsável pelo projeto da Polícia Federal, no laboratório em Brasília |
INVESTIGAÇÃO
Esse tipo de análise também permite esclarecer casos como o de uma investigação recente, na qual a PF monitorou quadrilhas em Goiás, no Ceará e no Pará.
Os investigadores pensaram haver três grupos distintos, mas a análise química mostrou que a correlação das amostras era de 99,8%. Ou seja, todas as drogas tinham a mesma origem e haviam passado pelos mesmos processos de refino.
Resultado: os envolvidos foram condenados por associação ao tráfico, receberam penas mais severas, e foi possível desvendar uma rota internacional. Após as prisões, a PF descobriu que os carregamentos tinham origem no Paraná, onde foi feita uma nova apreensão da droga.
A análise também possibilitou a condenação do homem apontado como chefe da quadrilha. Ele foi detido com um quilo de cocaína, mas passou a ser responsabilizado por centenas.
"O combate ao tráfico é feito com várias ferramentas e o Pequi (Perfil Químico) é uma arma importante", afirma o delegado Oslain Santana, diretor de Combate ao Crime Organizado.
Para especialistas, desvendar rotas significa atingir a logística da distribuição das drogas. "Sabendo por onde sai e por onde chega a droga, fica mais fácil investigar a rota", diz o coronel José Vicente da Silva, ex-secretário Nacional de Segurança Pública.
Para Silva, porém, a PF precisa investir na prisão de traficantes internacionais que exportam droga. "Além disso, é preciso aumentar interação entre a Polícia Federal e as dos Estados, com sistemas interligados de inteligência e melhorar o aparato nas fronteiras, por onde passa a droga."
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