Após confronto, casal é agredido por PMs na avenida da Paulista
Após a série de confrontos entre policiais e manifestantes que protestavam contra o aumento do transporte na cidade de São Paulo, pessoas que estavam sentadas em um bar na avenida Paulista foram expulsas do local, à força, por um grupo de PMs.
Entre os agredidos está um casal de universitários que chegou a participar da manifestação, mas disse ter deixado o protesto mais cedo ao notar atos de vandalismo.
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A estudante de Rádio e TV Gabriela Lacerda, 24, estava com o namorado no bar Charme da Paulista, na esquina com a alameda Casa Branca, quando um grupo de policiais portando escudo e tonfa (espécie de cassetete) abordou clientes e derrubou as mesas e cadeiras que estavam na calçada.
Os policiais ordenaram a funcionários do estabelecimento que fechassem as portas e, aos gritos e empurrões, mandou todos os clientes irem embora.
Os militares se dirigiram ao local após um grupo de pessoas correr para lá fugindo de bombas de gás lançadas por uma guarnição da Tropa de Choque. O grupo era formado na maioria por fotógrafos que se aglomeraram no canteiro central da Paulista e podem ter sido confundidos com manifestantes que se reagrupavam.
Gabriela e o namorado, Raul Longhini, 20, após saírem do bar, foram derrubados na calçada --ela teve o antebraço direito ferido com golpes de tonfa.
"Sou super pacífica, esta foi a primeira manifestação que participei. Mas saí antes porque vi que nem todo mundo estava com a mesma proposta. Nunca pichei um muro e pago meus impostos", disse.
"A polícia foi extremamente violenta. Eu estava sentada tomando cerveja e me jogaram no chão. Me deram porrada." A Folha presenciou as agressões.
Longhini disse, revoltado, que não poderia nem reclamar da ação na Corregedoria da PM porque os policiais estavam sem identificação em seus coletes. "Isso é um absurdo. Quem deveria me proteger me agride sem motivo", afirmou o estudante de marketing.
André Monteiro /Folhapress | ||
Os universitários Gabriela Lacerda, 24, Raul Longhini, 20, que foram agredidos por policiais militares na avenida Paulista |
Também na avenida Paulista, uma funcionária do shopping Center 3 teve que fugir correndo para escapar das bombas lançadas por PMs. A recepcionista Carolina Pardin, 25, estava ao lado da reportagem, caminhando, quando um policial mirou em direção a ela após alguns manifestantes dispersarem na mesma direção.
"Eu trabalho no shopping como recepcionista. Fiquei no horário normal, não fui liberada mais cedo. Por isso só saí agora. Vi que miraram em nossa direção e a bomba disparou perto de mim. Disse a jovem após se recompor da inalação do gás lacrimogêneo.
Questionado sobre a ação da PM, o secretário da Segurança Pública, Fernando Grella, afirmou que a polícia agiu para "garantir a ordem", mas determinou a abertura investigações para apurar excessos.
O tenente-coronel Marcelo Pignatari, comandante da região da Paulista, disse achar "impossível que a PM tenha agido sem ter sido agredida ou presenciado crimes".
PROTESTO
Esse foi o quarto protesto contra o aumento das passagens do transporte na última semana. O ato começou a se concentrar por volta das 16h, em frente ao Theatro Municipal. Na região já havia grande quantidade de policiais abordando e revistando pessoas.
Antes mesmo do início da passeata, já havia 30 pessoas detidas. Ao todo, foram confirmadas 235 detenções durante o protesto. Os organizadores também apontam cerca de cem feridos, sendo que sete jornalistas da Folha foram atingidos.
Depois de acompanhar os protestos de dentro de seu gabinete, no centro, o prefeito Fernando Haddad (PT) disse que a manifestação foi marcada pela "violência policial".
"Na terça, eu penso que a imagem que ficou foi a da violência dos manifestantes. Infelizmente, hoje (ontem), não resta duvida de que a imagem que ficou foi a da violência policial", afirmou.
NEGOCIAÇÕES
Na quarta-feira (12), o Ministério Público de São Paulo reuniu-se com manifestantes do Movimento Passe Livre --organizador dos protestos contra o aumento da tarifa-- e se comprometeu a marcar uma reunião com o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e com o prefeito Fernando Haddad para negociar uma suspensão, por 45 dias, do novo valor da tarifa. Antes do aumento para R$ 3,20, a tarifa de ônibus, metrô e trens custava R$ 3.
Hoje, o governador descartou a possibilidade de suspender o aumento das tarifas pelo período. Procurada, a gestão Haddad ainda não se manifestou se aceitaria a proposta do Ministério Público.
"Quanto a reduzir o valor da passagem, não há possibilidade", afirmou o Alckmin, que foi a Santos com o secretário Fernando Grella inaugurar uma delegacia e anunciar investimentos em segurança na região. "O reajuste foi menor que a inflação, tanto nos trens e metrô quanto nos ônibus", disse.
Haddad também disse que não reduzirá a tarifa de ônibus. Ele reafirmou que o aumento ficou abaixo da inflação e que cumpriu compromisso de sua campanha.
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