Protesto na periferia pede melhoria no transporte, moradia e saúde
Bem longe do glamour da avenida Brigadeiro Faria Lima e da avenida Paulista, a garçonete desempregada Kátia Oliveira, moradora do Capão Redondo, gritava "vem pra rua vem!" enquanto amamentava sua filha de três meses, Ísis Vitoria. Ela se juntou a cerca de 1.000 manifestantes que caminharam 10 km pela estrada do M'Boi Mirim, na periferia no extremo sul da cidade, até o largo 13 de Maio.
O protesto começou por volta das 7h30 no Largo do Piraporinha. Ao contrário das manifestações da Paulista e Faria Lima, grande parte dos participantes eram trabalhadores que não conseguiram pegar o ônibus para o trabalho e resolveram se juntar ao movimento.
As reivindicações no Jardim Ângela, uma das regiões mais violentas da cidade, eram mais realistas que na Faria Lima, mas não menos diversificados: duplicação da estrada M'Boi Mirim, terminal de metrô no Jardim Ângela, retomada de linhas de ônibus, e, claro, a redução da tarifa. Mas também pediam moradia, médico para o posto de saúde e redução da idade para tirar carteirinha de idoso para 60 anos.
Alguns manifestantes tentaram invadir a subprefeitura de M'Boi Mirim e o terminal de ônibus Jardim Ângela. A Polícia Militar e a Guarda Civil Metropolitana responderam com cassetetes e spray de pimenta. Um homem, ferido, foi detido pela polícia após começar uma briga.
"Minha filha já é veterana de protestos, o primeiro dela foi quando tinha um mês, em Embu das Artes", contou Kátia, que tem 32 anos, seis filhos, e é ativista do Movimento dos Trabalhadores sem Teto. Kátia não levou vinagre, máscara nem óculos para se proteger. Na sacola, só fraldas, Hipoglós e uma manta. Quando o tumulto começou, ela foi ajudada por amigos e se afastou.
Por volta das 10 horas, um homem se exaltou na frente da subprefeitura e começou a rasgar cartazes e bater em manifestantes. Ativistas começaram a brigar e tentaram escalar as grades da subprefeitura. A guarda civil reagiu com spray de pimenta. O homem foi espancado por manifestantes.
Ana Carolina da Silva Lima, 17, explicava para o patrão, pelo celular, que não ia conseguir chegar na loja de roupas onde trabalha, no largo 13 de Maio. Para as amigas, dizia. "Prefiro mudar o Brasil, depois eu vou trabalhar." Para chegar à escola e ao trabalho, ela passa 4 horas por dia dentro de ônibus. "Lá no Capão Redondo, não é fila que tem pra pegar o ônibus, é guerra --ou você se joga no bate-cabeça, ou não consegue entrar. Estou cansada disso tudo"
A manifestação foi organizada pelo MTST, pelo Periferia Ativa e alguns representantes do Movimento Passe Livre. A PM acompanhou o protesto para "evitar saques", como disse o tenente coronel Galindo. Todas as lojas na região fecharam as portas.
A PM acompanhou o protesto para "evitar saques", como disse o tenente coronel Galindo. Todas as lojas na região fecharam as portas.
"Tava indo para o serviço e desisti, não vai dar tempo de chegar no Itaim " disse Guilherme Santos, 19, que trabalha como rebobinador de insulfilme. "Se não pode derrotá-los, junte-se a eles", dizia, enquanto gritava "quem não pula quer tarifa." Quase todos os manifestantes usavam smartphones para fotografar ou filmar, e postar nas redes sociais. "O 3G está pegando", comemorava a estudante Debora do Nascimento, de 28 anos.
Camisetas da gaviões da Fiel, bonés virados para trás, bandeiras do Che Guevara e skates também eram muito comuns. Xingamentos contra a Rede Globo se ouviam aqui e ali, e as repórteres da rede e da Globonews retiraram os logos de seus microfones.
No caminho para o terminal Jardim Ângela, os mais ousados escalavam fachadas para arrancar cartazes de políticos e rasgá-los, sob aplausos.
Chegando lá, alguns mais exaltados começaram a invadir, pulando as roletas, e os policiais militares reagiram com cassetetes.
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