Para romper, fitas do senhor do Bonfim voltam a ser de algodão
Baianos devotos e turistas supersticiosos podem renovar suas esperanças: as fitinhas do Senhor do Bonfim voltarão a ser feitas de algodão, que não demora anos para romper como as atuais.
Segundo a tradição, os pedidos são atendidos apenas quando a fita, enrolada no pulso, estoura sozinha.
"Quanto maior a fé, mais rápido a fita vai partir", diz Moisés Cafezeiro, coordenador da Cooperativa de Artesãos de Artigos Religiosos da Bahia, responsável pela implantação da fábrica em Salvador.
O novo tecido marca também o retorno da produção à Bahia. Há duas décadas as fitinhas são fabricadas --em material sintético-- por indústrias de São Paulo (principalmente na cidade de Sumaré) e Minas Gerais.
Para reverter a situação, a cooperativa baiana investirá R$ 180 mil e terá 50 cooperados. A expectativa é produzir 50 milhões de fitinhas por ano.
João Alvarez/UOL | ||
Fitas serão feitas de algodão; segundo a tradição, os pedidos são atendidos apenas quando a fita estoura sozinha |
TURISMO
Originalmente, as fitas vêm em dez cores, representando os orixás, mas a aposta para 2014 são as verdes de Oxóssi, as amarelas de Oxum e as azuis escuras de Ogum --reflexo da Copa do Mundo.
A fábrica também vai produzir outros artigos religiosos, como terços, patuás e figas, além de camisas e medalhas de Irmã Dulce, baiana beatificada em 2010.
Para o secretário estadual de Turismo, Domingos Leonelli, a retomada da produção "era questão de honra" e ajudará a impulsionar o turismo religioso.
O governo baiano, aliás, é hoje o principal consumidor das fitinhas, utilizadas em ações de marketing e promoção turística da Bahia.
custo
Vendedores que atuam no entorno da Basílica do Bonfim, no entanto, veem a iniciativa com desconfiança. Em 2001, um projeto semelhante desenvolvido com apoio de prefeitura, governo e Sebrae não foi adiante.
Aos 36 anos, 26 deles vendendo fitinhas do Senhor do Bonfim, Marcos Nascimento teme que o custo mais alto seja um problema.
"Acho mais viável as que são feitas em São Paulo. Elas têm um custo mais baixo", diz o vendedor.
Cafezeiro, da cooperativa de artesãos, confirma: o novo modelo deverá ser vendido por R$ 0,30 --as atuais custam R$ 0,10.
"Mas as fitas sintéticas são feitas sem nenhum critério de fé. Nós vamos retomar o modo de produção dos romeiros, quando cada fitinha tinha um significado muito maior", diz.
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