'Tinha que rezar para não desabar', diz funcionário de obra que ruiu
O ajudante-geral Erivaldo Jesus do Santos, que trabalhava na obra que desabou na última segunda-feira em Guarulhos, na Grande São Paulo, afirmou em depoimento à polícia que os operários tinham medo de trabalhar e comentavam entre si sobre as trincas e rachaduras do local.
"Todos tinham que rezar para que o prédio não desabasse e matasse todo mundo", afirmou ele, que é funcionário de uma empresa terceirizada --Mãos em Obras-- e trabalhava na obra localizada na Vila Leonor há cerca de cinco meses.
Santos afirmou não saber se os operários fizeram denúncia a algum órgão público, já que todos tinham medo de perder seus empregos. Contou ainda que notou a instalação de quatro ou cinco colunas no subsolo da edificação, mesmo após a construção da laje no nível térreo, para reforçar a fundação.
O funcionário disse que desde que chegou na obra reparou uma rachadura grande em uma escada perto do subsolo. Algumas colunas, disse, tinham rachaduras do nível do chão até o teto. Ele destacou ainda que uma cinta de amarração estava cedendo no subsolo, próximo ao poço do elevador.
Ao todo, três funcionários foram ouvidos pela Polícia Civil nesta quarta-feira. Uma das 15 pessoas que trabalhavam na construção estava no local no momento do acidente, por volta das 19h20 de segunda-feira, e permanece desaparecido. Os bombeiros fazem buscas nos escombros.
O inquérito que investiga o acidente foi aberto ontem pela Polícia Civil. O proprietário da construtora Salema, responsável pela obra, Fernando Madeira Salema, foi chamado para depor, mas ainda não compareceu à delegacia. Procurado pela reportagem, uma funcionária da construtora afirmou que ele está internado.
INSPEÇÃO
A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou ontem uma proposta que estabelece normas para inspeção de todos os edifícios do país.
A proposta foi aprovada ontem em caráter terminativo e, se não receber recurso em cinco dias, seguirá para votação no Senado.
Pelo projeto, edifícios residenciais, comerciais e prédios públicos com até 20 anos terão que passar por inspeção do estado geral de solidez e funcionalidade a cada cinco anos. Já imóveis mais antigos deverão ser analisados a cada três anos.
O responsável pela edificação deverá contratar engenheiro para fazer as avaliações. As medidas não terão efeito para unidades de até dois andares.
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