Jovens de 'rolezinho' são vítimas de discriminação racial, diz ministra
A ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros (PT), afirma que os jovens que participam dos "rolezinhos" em shoppings são vítimas de "discriminação racial explícita".
Em entrevista à Folha, ela criticou a decisão judicial que permitiu a pelo menos quatro shoppings de São Paulo, como o JK Iguatemi e o Itaquera, barrassem a entrada de manifestantes no último sábado.
No Painel desta quinta-feira, a ministra disse que os "problemas dos "rolezinhos" decorrem da reação de clientes brancos que se assustam com os jovens.
A petista também acusou o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) de incentivar o racismo por ter comparados os jovens a "cavalões".
O tucano foi criticado nas redes sociais e se defendeu afirmando que usou o termo "como sinônimo de marmanjo, gente grande, no tamanho e na idade".
Luiza Bairros debateu o tema com a presidente Dilma Rousseff na terça-feira. Leia a seguir os principais trechos de sua entrevista, concedida no dia seguinte:
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Folha: Como a senhora tem visto os "rolezinhos"? Qual é o papel do jovem negro no movimento?
Luiza Bairros: De um lado está a percepção de grande parcela da juventude de que não tem direito a todos os espaços da cidade. Através dessa manifestação, eles reivindicam participação e presença nesses lugares, que foram reservados a pessoas de mais alta renda, majoritariamente branca.
A manifestação dos jovens revela, por outro lado, aquilo que eles leram muito bem: existe uma parcela da sociedade que não quer a presença deles em determinados lugares. Então você vê manifestação de discriminação racial muito explícita em relação a esses movimentos.
Em muitos sentidos, a liminar que proíbe a entrada dos jovens nos shoppings, ou pelo menos dá o direito de selecionarem quem entra ou não, é uma situação racista. A liminar consagra um processo de segregação racial do espaço, o que esses jovens conseguiram perceber muito nitidamente.
A Polícia Militar é racista quando agride jovens em "rolezinhos", como no Shopping Itaquera?
A PM, infelizmente, ao cumprir decisão judicial, de certa forma recebe respaldo para fazer algo que já fazia e faz cotidianamente. Que é criar um perfil de criminoso associado à pessoa negra, e mais particularmente ao jovem negro.
O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) chamou os jovens dos "rolezinhos" de "cavalões". Há o que temer nas manifestações?
Eu acho que haverá o que temer se as pessoas, e determinados parlamentares, continuarem a dar declarações que confirmam a desumanização das pessoas negras. Esse tipo de resposta pode acirrar, entende? Existe uma postura e uma intenção absolutamente pacífica nessas movimentações. Os problemas que têm havido são derivados da reação das pessoas brancas que se assustam com essa presença [dos jovens nos shoppings].
O senador relatou ter levado os netos ao Shopping Morumbi e escreveu no Twitter: "Imagino como eu e demais avós reagiríamos caso um bando de cavalões cismassem de dar um rolê por lá". O que a senhora tem a dizer?
O racismo desumaniza a pessoa negra. Ele não vê um ser humano, vê um animal potencialmente perigoso. Mas acho que você tem que reforçar o seguinte: conversei com a secretária de Justiça de São Paulo e ela me assegurou que a disposição do governador é fazer com que a atuação da policia seja a mais correta possível e qualquer abuso seja repudiado. Acho que esse é o tom que temos que dar a esse fenômeno.
Como a PM deve se comportar no "rolezinho"?
Primeiro, respeitar a intenção pacífica. Segundo, que as secretarias de Segurança recomendem explicitamente às suas polícias que não adotem nenhuma atitude de agressão e repressão. É totalmente incabível. Uma resposta mais ríspida por parte da polícia é que tem o potencial de transformar isso em outra coisa que os jovens em princípio não fizeram.
A senhora vê semelhanças entre os "rolezinhos" e as manifestações de junho?
Não faço comparação direta porque [os rolezinhos" partem de setor social diferenciado e são compostos majoritariamente por negros, que nas manifestações de junho nem sempre estavam presentes. Obviamente, essas manifestações precisam ser inseridas num quadro mais amplo que vivemos hoje no Brasil, que é de mudança social e reivindicação crescente de direitos que foram conquistados recentemente.
A senhora compararia o fenômeno a algum outro na história?
Guardada as diferenças históricas e a diferença de intencionalidade dos atores, ele tem uma característica muito semelhante aos "sit-ins", que os negros americanos fizeram na década de 1950 e 1960 para a dessegregação racial dos espaços, principalmente os espaços de lazer.
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