Novas gerações de árabes estudam a dança do ventre sem o estereótipo
As gerações mais jovens de descendentes de árabes no Brasil procuram um novo significado para a dança do ventre, longe dos estereótipos da odalisca sensual e exótica.
O estilo nascido e praticado no Oriente Médio e na África do Norte chegou aqui com a primeira leva de imigrantes, e ficou guardado dentro de casa por muito tempo.
"No mundo árabe, a separação entre o público e o privado é muito forte. A dança do ventre está na esfera da vida privada, era praticada só na intimidade", diz a bailarina e professora Marcia Dib.
Neta de sírios vindos de Homs e mestre em cultura árabe pela USP, Dib pesquisou as raízes da dança em viagens à terra dos avós.
Isso fundamentou sua tese, "A Diversidade Cultural da Síria através da Música e da Dança" e sua abordagem do estilo. Hoje, vê meninas que querem aprender a dança por lazer (Dib dá aula em clubes sírios) se interessarem pelas origens da dança oriental ("raqs sharqi", como é chamada no mundo árabe).
Dança do ventre foi o nome dado ao estilo pelos franceses, mais ou menos na mesma época em que sírios e libaneses chegaram ao Brasil.
Também naquela época, os movimentos ondulantes da dança oriental enlouqueceram europeus e americanos. Rapidamente, encontraram-se fórmulas para adaptá-los às fantasias ocidentais.
Marcus Leoni/Folhapress | ||
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O dancarino Lukas Oliver |
ODALISCAS
Bailarinas trazidas de então colônias, como Argélia e Tunísia, faziam sucesso em shows de variedades com figurino inspirado em pinturas dos orientalistas europeus.
Nascia a imagem da dançarina odalisca, reforçada no século 20 nos filmes de Hollywood e no próprio mundo árabe, "numa espécie de auto-exotismo", diz Dib.
Com esse figurino, a dança se popularizou no Brasil. Mas as bailarinas que se apresentavam em público não eram da comunidade árabe.
"Em festas íntimas, você podia ver sua tia vestida com tailleur fazendo 'shimmie' [espécie de tremido dos quadris] loucamente, mas dançarinas de bustiê, nos restaurantes, não eram da comunidade", afirma Dib.
A precursora e primeira professora das dançarinas profissionais no Brasil, Shahrazad (nome artístico de Madeleine Iskandarian), embora nascida na Palestina, era filha de armênios. Ela formou e influenciou as bailarinas que, na década de 1970, começaram a dançar em restaurantes de São Paulo.
Lulu Sabongi foi uma das formadas por Shahrazad. Ela iniciou a carreira em 1985, apresentando-se na casa de chá Khan el Khalili, em São Paulo, onde passou a dar aulas em 1990.
Lulu continuou seu aprendizado com professores árabes no Egito, na Europa e nos EUA, participou de festivais no Egito, deu cursos em vários países e lançou uma série de vídeos didáticos de dança do ventre. Em 2007, abriu o Centro Cultural Shangrila, onde ensina a dança oriental.
Em sua escola, recebe alunas de várias partes do Brasil, como Norman Martins da Silva, 42, de Tocantins. Silva se apresenta como Aziza Mor e, além da dança do ventre, pratica ioga e eutonia.
Como sua colega Giselle Bellas, 30, também dança em festas. "Danço muito em casamentos da comunidade libanesa. Há um costume de as bailarinas e músicos conduzirem a entrada dos noivos nas festas", conta Bellas.
Marcus Leoni/Folhapress | ||
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A dançarina Aziza Mor |
Elas aprenderam com Lulu o estilo mais próximo da dança tradicional, menos ocidentalizado. Mas a escola também incorpora inovações na dança do ventre.
Lukas Oliver, nome artístico de Lucas Oliveira dos Santos, 22, começou a fazer dança folclórica árabe em Araguari (MG), onde nasceu. Hoje dá aulas na escola de "tribal fusion". "É uma ramificação da dança do ventre que junta elementos do flamenco e da dança indiana", diz.
IARA BIDERMAN, 55, pratica danças étnicas e orientais e escreve sobre dança em geral.
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