Para aliados, promessa de Doria de congelar tarifa em 2017 foi precipitada
Eduardo Knapp/Folhapress | ||
Aposta de governador, Geraldo Alckmin comemora eleição de João Doria à Prefeitura de São Paulo |
Aliados do prefeito eleito de São Paulo, integrantes do governo estadual e de siglas da base aliada de João Doria (PSDB) avaliam que ele se precipitou ao anunciar um congelamento do preço da passagem de ônibus, taxas e impostos municipais em 2017.
A medida de maior apelo popular, a manutenção do valor do transporte coletivo em R$ 3,80, acabou criando um constrangimento ao governador Geraldo Alckmin (PSDB), padrinho político de Doria.
O Estado é responsável pelo Metrô e pela CPTM e costuma combinar com a prefeitura os reajustes das tarifas –que têm ficado no mesmo patamar nos últimos anos.
Integrantes do governo Alckmin avaliam que, diante da queda na arrecadação estadual e com as demandas do Metrô (que enfrenta um aperto financeiro), será "inevitável" um reajuste no sistema sobre trilhos no ano que vem –que ficaria, assim, com tarifa diferente, mais cara que a dos ônibus municipais.
A avaliação do Palácio dos Bandeirantes é que Doria "não fez por mal" esse anúncio, mas por "inexperiência".
Há ainda entre os tucanos a avaliação de que Doria acabou assumindo um compromisso de forte apelo muito cedo, antes de saber detalhes das contas da prefeitura.
A gestão Fernando Haddad (PT) enviou à Câmara uma proposta de Orçamento que prevê queda real de 5,9% na previsão de arrecadação para 2017, em relação à estimativa feita para este ano.
Nesse cenário, ao congelar a tarifa em R$ 3,80, há risco de nova elevação abrupta de repasses de verba do Orçamento às empresas de ônibus, os chamados subsídios.
Na prática, isso significaria abrir mão de gastos e investimentos em outras áreas.
Diante de uma série de gratuidades (como para idosos e estudantes de baixa renda) e descontos no transporte (com as integrações gratuitas permitidas pelo Bilhete Único), a tarifa paga pelos passageiros é insuficiente para cobrir os custos contratuais das empresas. Os subsídios servem para cobrir essa diferença.
Nos últimos anos, houve uma disparada desses repasses, principalmente depois do congelamento temporário da tarifa após a onda de protestos de junho de 2013. Em 2012, antes de Haddad assumir, os subsídios atingiam R$ 1,17 bilhão. Neste ano, eles devem beirar a marca de R$ 2 bilhões.
O custo para manter os ônibus na capital paulista supera R$ 7 bilhões por ano –bancado pela tarifa dos passageiros e pelos subsídios. Só a correção inflacionária já tende a significar gastos extras acima de R$ 600 milhões em 2017 –que, em tese, seriam cobertos pelo reajuste da passagem ou, sem isso, com mais subsídios.
Doria pode tentar rever a remuneração das empresas, assim como Haddad já prometeu, mas enfrentará forte resistência em começo de mandato, com risco inclusive de greves de ônibus que já desgastaram outros prefeitos.
RECUOS
Depois de fazer a promessa, Doria foi orientado a falar um pouco menos para evitar recuos posteriores. O prefeito eleito já enfrenta pressão para mudar seu entendimento, por exemplo, com relação ao aumento da velocidade nas marginais Pinheiros e Tietê.
"Agora vamos testar se ele é realmente gestor ou político", diz Police Neto, líder da bancada do PSD na Câmara. "Político é que tem medo de voltar atrás. Gestor, administrador, olha os dados e resolve. Todos os estudos indicam que a redução da velocidade salva vidas", provoca.
A decisão de reajustar a tarifa de ônibus no meio do ano foi o estopim para que Haddad enfrentasse a primeira grande crise de seu mandato, em junho de 2013. Na ocasião, o petista havia congelado a passagem no início do ano a pedido da então presidente Dilma Rousseff, que queria evitar a escalada da inflação.
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