Família passa por via-crúcis de cinco dias até sepultamento de jovem no ES
Victor Parolin-5.jul.2016/Folhapress | ||
Valas abertas na Serra (ES) para vítimas da onda de violência |
No maior cemitério da Serra, município foco da onda de assassinatos da semana passada no Espírito Santo, a cerimônia de sepultamento de Jorge, 23, durou dez minutos.
A saga vivida pela família para sepultar o jovem, porém, durou cinco dias, em meio ao medo diante do motim da PM.
Gabriela soube da morte do irmão, Jorge (ambos nomes fictícios), por meio de uma rede social. Os relatos de vizinhos, que se confirmariam mais tarde, eram de que Jorge e um amigo foram baleados e morreram. Naquela quinta-feira (9), os policiais do Estado entravam no sexto dia de paralisação geral.
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Enquanto isso, lojas eram saqueadas, ônibus não saíram das garagens e o número de homicídios explodia.
Gabriela iniciou sua jornada na própria cidade de Serra, a segunda mais populosa e a mais violenta do Estado.
Para fazer o reconhecimento do corpo do irmão, precisou da carona de um vizinho, já que os ônibus não operavam. Após 30 minutos, ao chegar ao IML, deparou-se com uma fila de familiares em busca de informações ou aguardando para reconhecer os corpos.
Feito o reconhecimento, Gabriela voltou para casa e iniciou a procura pelos documentos do irmão para providenciar o sepultamento. Não encontrou nada e teve que peregrinar por cartórios da Serra em busca de registros.
Três dias depois, enfim com os documentos em mãos mas sempre com medo, voltou a Vitória para finalizar as exigências para o sepultamento. Desta vez, o trajeto foi feito de ônibus, que voltavam a circular, ainda que com horários reduzidos e maiores intervalos.
Com o luto e a burocracia na cabeça, Gabriela sofreu mais um baque: ao chegar a Vitória, percebeu um erro no registro da data da morte do irmão. O equívoco atrasou em mais um dia o sepultamento.
Finalmente, terça-feira (14). O enterro estava marcado para as 13h30. Mas até as 15h, a família ainda tentava corrigir o erro de registro. A família somente chegou ao cemitério pouco antes das 17h, horário máximo para sepultamentos.
Gabriela, uma irmã e a mãe era as únicas a acompanhar o corpo. Caminharam até uma área distante, aberta para abrigar novos túmulos, muitos de vítimas da onda de violência –incluindo um PM.
Eram tantos os corpos ao mesmo tempo que foi preciso uma retroescavadeira para abrir valas. Sem velório, e em menos de dez minutos, as três familiares se despediram do jovem. Gabriela, a mãe e a irmã retornaram para casa, de carona no carro funerário.
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