Análise
Doria terá que suar para esticar lua de mel com eleitor paulistano
A relação entre o prefeito João Doria (PSDB) e a cidade de São Paulo continua na fase "namorado novo", em que a boa vontade e o otimismo com a nova situação ajudam a relevar os problemas.
Se o mato está alto, a culpa é de quem não renovou os contratos de jardinagem antes que o novo prefeito assumisse. Se as avenidas estão esburacadas, a responsabilidade é de quem asfaltou as ruas com material de qualidade ruim lá atrás.
Doria tem se beneficiado também da comparação com o "ex". Fernando Haddad (PT) deixou a cidade (ou melhor, foi deixado por ela ao perder a reeleição) com uma alta taxa de impopularidade.
O tucano trabalha o marketing político sempre no sentido de demonstrar que as suas atitudes são diferentes das que o antecessor costumava tomar, sobretudo em aspectos sobre os quais havia críticas, justas ou não, ao comportamento do petista.
Haddad saía pouco do gabinete? Doria está frequentemente na rua. Num dia, faz uma visita surpresa a uma prefeitura regional e a uma unidade de saúde. No outro, coloca uma roupa de gari e dá umas vassouradas num montinho de sujeira.
Haddad estava invariavelmente com cara de preocupado e reclamando da falta de dinheiro? Doria exibe confiança e iniciativa. "Vamos resolver isso, vamos melhorar aquilo", e sai pedindo doações para pintar muros ou obter carros novos para a CET.
Rivaldo Gomes - 2.jan.17/Folhapress | ||
Prefeito João Doria tira selfie vestido de gari em seu primeiro dia útil de trabalho |
Mas, como em todo relacionamento, a lua de mel um dia acaba (a taxa de insatisfeitos já cresceu um pouco). Espírito propositivo não enche o portfólio de ninguém. Doria terá de fazer algo a mais (e rápido) se quiser ter o que mostrar em 2018, ano de eleição para presidente da República e para governador.
O problema é que a situação financeira da prefeitura não é nada boa. A cidade tem hoje baixíssima capacidade de fazer investimentos.
Em razão da crise econômica, houve uma queda de quase 10% nas receitas da prefeitura paulistana de 2015 para 2016, situação que ainda não se normalizou.
Haddad, em razão dos protestos que enfrentou contra o aumento da tarifa dos ônibus num primeiro momento e do calendário eleitoral num segundo, aumentou os gastos com subsídio à passagem, que praticamente dobraram entre 2012 e 2016.
Doria, ao não aumentar a tarifa em cumprimento a promessa que fez um dia após ser eleito, apenas agravou o problema. Se nada for feito, terminará o ano gastando R$ 3,2 bilhões com o subsídio, mais da metade do previsto no Orçamento de 2017 para novas obras em todas as áreas.
Por outro lado, há na cidade hoje uma demanda grande por serviços. Para não entregar o caixa no vermelho, Haddad fez um enorme corte de gastos no ano passado.
Ou seja, Doria não tem mais como congelar despesas na manutenção da cidade, sob o risco de São Paulo ficar com aparência total de lugar abandonado. Atualmente há, por exemplo, apenas 200 funcionários cuidando dos parques, embora sejam necessários 1.200.
Diante desse quadro, para obter recursos, o prefeito pretende realizar um amplo plano de desestatização, que prevê a venda de ativos (como o autódromo de Interlagos) e a concessão de bens (como o estádio do Pacaembu) para a iniciativa privada.
Só que a montagem e a provação desse programa na Câmara Municipal não é tarefa fácil nem rápida. Tampouco há garantia de sucesso.
Doria terá de suar para manter o relacionamento com a população em níveis altos de popularidade.
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