Descrição de chapéu Festa do Peão de Barretos

Clube fundador da festa de Barretos mantém tradição e proíbe mulheres

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Crédito: Joel Silva/Folhapress Festa de abertura da festa do Peão, sábado passado, em Barretos
Festa de abertura da festa do Peão, sábado passado, em Barretos

MARCELO TOLEDO
ENVIADO ESPECIAL A BARRETOS

Existe um lugar em que elas nunca puderam ser sócias e, mesmo numa época em que o empoderamento feminino é cada vez mais latente, talvez nunca poderão. O veto já existe há 62 anos e inclui, também, homens casados e os que dependam financeiramente de seus pais.

Organizadora da Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, a associação Os Independentes, fundada como clube em julho de 1955 e que organiza o principal evento do gênero no país, surgiu numa conversa de amigos numa mesa de bar, com uma série de exigências aos seus sócios que perduram até hoje.

Os membros deveriam, e devem, ter mais de 22 anos, ser solteiros e independentes financeiramente –daí o nome do grupo–, além de terem nascido na cidade ou comprovarem vínculo com o local nos últimos anos e não ter antecedentes criminais.

Com esse conjunto de pré-requisitos, os 20 amigos fundaram o clube e organizaram no ano seguinte a primeira festa que oficializou no país a disputa com distribuição de prêmios entre os peões.

Foram usados peões de fazendas no entorno de Barretos e os organizadores tiveram como embrião uma prova de montarias em cavalos.

Eram tempos em que não havia críticas ao uso de animais nas arenas. Hoje, os rodeios recebem acusações de entidades de proteção por maus-tratos a touros e cavalos. Para elas, os touros sofrem tortura devido ao uso do sedém (corda de lã presa na virilha dos animais) e por serem vítimas de choques e de estresse devido ao barulho e à luminosidade das arenas.

"Não mudou nada nas exigências de entrada desde então. O que mudou foi o número de sócios e critérios para saída", disse Mussa Calil Neto, membro e ex-presidente.

Porém, só os pré-requisitos não bastam para a admissão. Com o número fechado de 100 sócios, ante os 20 do início, um novo membro só é aceito em caso de morte ou renúncia de um dos integrantes.

É necessário, também, que o pretendente passe por um período de adaptação, de no mínimo três anos. "Assim, ele vê se é isso que ele quer e se é o que a gente quer também."

Além da alta no número de sócios, o primeiro estatuto tinha uma cláusula que dizia que "o associado que se casar será incontinentemente expulso". Isso aconteceu cinco vezes, segundo Calil Neto. Mas, com o crescimento, o estatuto foi modificado e agora permite que membros se casem depois da "iniciação".

Dos 20 fundadores, cinco estão vivos –Horácio Tavares de Azevedo, Paulo Pereira, Antonio Renato Prata, Rubens Bernardes de Oliveira e Orlando Araújo, que foi o primeiro locutor de rodeios. Os dois primeiros moram em Barretos.

Além dos 20, outros 12 foram admitidos entre a fundação do clube e a primeira festa. O único vivo é José Tupynambá, presidente duas vezes e que diz que hoje tudo é diferente. "No nosso tempo era carro de boi, o primeiro dia de festa tinha alvorada. Mas a gente tem de aceitar a época atual. No nosso tempo eram noitadas de música sertaneja autêntica, de raiz."

Enquanto a primeira festa foi feita sob uma lona de circo, hoje o Parque do Peão fica numa fazenda de 78 alqueires e recebe até 1 milhão de visitas nos 11 dias de festa.

Tupynambá, embora afirme que as atrações sofreram modificações, disse acreditar que hoje provavelmente não haveria público só para o sertanejo raiz. "Não faz meu perfil, mas estão certos de incluir essa atualização. Sertanejo universitário é muito forte, atrai muito público."

Sobre a possibilidade de aceitarem mulheres entre os sócios, já houve discussão interna no grupo sobre a questão, mas a ideia não avançou. Um dos motivos é a manutenção das tradições.

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