THIAGO AMÂNCIO
BRUNO SANTOS
ENVIADOS ESPECIAIS A NATAL (RN)

Após decisão judicial que determinou a prisão de policiais e bombeiros que incitem a paralisação dos agentes de segurança no Rio Grande do Norte, o movimento, que já dura 16 dias, perdeu forças na manhã desta terça-feira (2).

A Polícia Militar diz, oficialmente, que 42 veículos da corporação voltaram a patrulhar a capital, mas, por questões de segurança, não informa que parcela isso representa do total, diz apenas que é uma pequena parte. No interior, 32% da força retornou ao trabalho. A instituição prevê que, até sexta-feira, todo o efetivo volte a trabalhar normalmente.

O comando do movimento grevista, no entanto, nega que a paralisação tenha acabado. "É uma atitude individual. E, na medida que apareçam condições para os policiais irem às ruas, eles vão", diz Elieber Marques, presidente da Associação dos Subtenentes e Sargentos Policiais Militares e Bombeiros Militares.

No domingo (31), o desembargador Claudio Santos determinou que os comandantes da PM, dos bombeiros e da Polícia Civil prendam em flagrante os agentes da segurança pública que promoverem, incentivarem ou colaborarem com a paralisação. O desembargador determinou ainda o aluguel de 50 veículos para o patrulhamento.

No 9º Batalhão, responsável pelo policiamento na zona oeste da cidade, dois carros patrulham 13 bairros, segundo policiais militares. No 4º, na zona norte, nenhum carro voltou, segundo policiais, mas alguns agentes fizeram o patrulhamento a pé. Já nas zonas leste e sul, onde atua o 5ºBPM, foram três carros. Segundo os militares, os carros que saíram às ruas foram os que tinham condição para isso.

Agentes disseram à reportagem que voltaram ao trabalho contrariados. "Voltamos porque se já tá ruim assim, imagina se a gente for preso. Aí não consigo ir pros meus bicos, que é o que tá segurando nessa falta de pagamento", diz um cabo que pediu para não ser identificado.

Os policiais, no entanto, negam que estejam em greve, uma vez que têm comparecido aos quartéis. Dizem que não podem ir às ruas sem equipamentos de proteção suficientes, com viaturas danificadas e coletes vencidos. Os agentes estão com três salários atrasados: novembro, dezembro e o 13°. Os salários de novembro dos funcionários que ganham até R$ 4.000, o equivalente a 86% da folha de pagamento das polícias, segundo o governo, foram pagos na sexta-feira (29). Na segunda (1), a secretária de Segurança Pública e Defesa Social, Sheila Freitas, anunciou que vai cumprir a determinação e pediu que os policiais voltassem ao trabalho.

TROPAS

Em meio ao crescimento da violência, o presidente Michel Temer (PMDB) enviou tropas das Forças Armadas a capital. São 2.800 homens, a maior parte do Exército (2.000 deles), mas também da Marinha, Aeronáutica e da Força Nacional de Segurança, de Estados como Alagoas, Paraíba e Ceará.

O policiamento deu resultado no Ano-Novo. Foram 18 mortes violentas na cidade em 29 de dezembro (dia mais violento desde o começo da paralisação da PM) e 11 no dia 30. No dia 31 foram duas, e uma até o começo da tarde desta segunda (1°). Ao todo, quase cem mortes foram registradas no Estado após a PM deixar as ruas, segundo o Observatório da Violência Letal Intencional do RN.

Do efetivo de 7.500 policiais, a Associação dos Subtenentes e Sargentos Policiais Militares e Bombeiros Militares estima que cerca de 80% tenham aderido ao movimento -em um dia inteiro, a reportagem encontrou duas viaturas da polícia nas ruas da cidade. Um policial que entra hoje para a corporação no RN recebe R$ 2.904.

Esta é a terceira vez que o governo federal envia militares ao Rio Grande do Norte em menos de dois anos. A primeira vez foi em agosto de 2016, para ajudar no policiamento durante uma série de ataques a ônibus e órgãos públicos. Em janeiro de 2017, as forças armadas também foram acionadas durante as rebeliões na penitenciária de Alcaçuz.

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