Último condenado à morte no Brasil cavou a própria cova dentro de igreja

Crédito: Pedro Ladeira/Folhapress Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Luziânia (GO), onde está enterrado José de Souza
Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Luziânia (GO), onde está enterrado José de Souza

DE BRASÍLIA

Em 2015, pela primeira vez em mais de 150 anos, brasileiros foram mortos por terem sido condenados à pena capital. As execuções de Marco Archer, em janeiro, e depois a de Rodrigo Gularte, ambas na Indonésia, foram as primeiras de brasileiros no exterior.

Já no Brasil, a última execução de um homem livre condenado à morte pela Justiça Civil aconteceu em 1861, na província de Santa Luzia, que deu origem à cidade de Luziânia, no entorno do DF.

Segundo pesquisa Datafolha, em nove anos cresceu o apoio da população à aplicação da pena de morte no Brasil. De acordo com o levantamento, 57% dos entrevistados se disseram favoráveis à adoção da penalidade capital. Em 2008, data da última pesquisa do instituto sobre o tema, 47% tinham a mesma opinião.

No caso do último brasileiro executado no país, o lavrador José Pereira de Souza, 40, foi condenado pela morte de um barão da região. Seis anos antes, Souza conhecera Maria Nicácia, mulher da vítima, com quem planejou o assassinato do homem traído para que pudessem viver juntos. Descobertos, foram sentenciados à morte.

Os dois condenados recorreram ao imperador, D. Pedro 2º, para que a pena fosse convertida em prisão perpétua, mas apenas o pedido de Maria Nicácia foi aceito. Souza foi enforcado em data desconhecida, em um patíbulo construído ao lado de um pé de manga especialmente para o evento.

No dia de sua morte, Souza percorreu a pequena vila a pé até chegar à igreja de Nossa Senhora do Rosário. A população toda, inclusive as crianças, acompanhou. Dentro da igreja, o lavrador cavou a própria cova. Em seguida, foi levado ao patíbulo, onde se confessou, recebeu a comunhão e foi empurrado.

Os registros oficiais sobre a condenação e a execução se perderam. Segundo historiadores, os documentos foram queimados por ordem de um delegado que queria limpar os arquivos da cadeia.

ÚLTIMO

Não existe no país um registro de quantas e quais pessoas foram condenadas à pena de morte e executadas. O caso de José Pereira de Souza é considerado o último de um homem livre, mas há relatos de escravos e ex-escravos que foram executados pelo Estado até o início do século passado.

A pena de morte foi abolida no Brasil com a proclamação da República, em 1889. Desde então, ela vigorou como exceção em alguns momentos da história do país, como na ditadura militar, e atualmente é prevista apenas em situações de guerra.

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