DANIELA GARCIA
LEONARDO MARTINS
DO UOL

Após pouco mais de três horas de ação pacífica, um ato convocado pelo MPL (Movimento Passe Livre) para protestar contra o aumento do preço das passagens de ônibus, metrô e trem em São Paulo terminou em confusão e enfrentamento entre manifestantes e policiais militares nesta quinta (11).

As tarifas subiram de R$ 3,80 para R$ 4 no último domingo (7). O reajuste, de 5,26% –abaixo da inflação, foi anunciado de forma conjunta pelas gestões do prefeito João Doria e do governador Geraldo Alckmin, ambos do PSDB, ainda em dezembro de 2017.

Segundo os organizadores, 10 mil pessoas participaram do ato. Para a PM, a estimativa é de 1.500 manifestantes. Além do MPL, a manifestação também contou com representantes do PSTU, PCB (Partido Comunista Brasileiro), UNE (União Nacional dos Estudantes), PSOL e da Frente Povo Sem Medo.

O ato teve início por volta das 17h na praça Ramos de Azevedo, em frente ao Theatro Municipal, no centro de São Paulo. O local fica a poucos metros da sede da prefeitura.

Cerca de uma hora depois, os manifestantes partiram em direção ao largo da Concórdia, no Brás, também no centro. Diversas ruas foram interditadas para a passagem dos participantes do ato, e o comércio chegou a ser fechado na altura do terminal Parque Dom Pedro.

Por volta das 20h40, os manifestantes começaram a dispersar. Um grupo, porém, tentou entrar na estação Brás do trem e metrô e, segundo os organizadores, foi impedido pela PM. Alguns conseguiram furar o bloqueio e chegaram a pular as catracas.

Acionada pelos seguranças da estação, a PM tentou repreender os manifestantes. De acordo com a polícia, foi atirado um coquetel molotov em direção aos policiais, que passaram a responder com bombas de efeito moral e tiros de balas de borracha.

Após a ação policial, o ato dispersou completamente. Ainda não há informações sobre feridos ou pessoas detidas.

Durante todo o ato, manifestantes mascarados formaram a linha de frente do protesto, mas sem cometer ações de vandalismo.

NOVOS PROTESTOS

"Esses 20 centavos servem apenas para aumentar o lucro dos empresários", disse Francisco Bueno, um dos organizadores do MPL. Segundo ele, a exigência do movimento, de gratuidade do transporte, se justifica porque o transporte deve ser efetivamente público.

Bueno dizia já no início do ato que o protesto desta quinta será apenas o primeiro de uma série. O segundo, de acordo com o MPL, será no dia 17, em frente à casa do prefeito João Doria. "Não vai ter paz em São Paulo enquanto a tarifa não for revogada", disse Bueno.

Crédito: EVOLUÇÃO DOS SUBSÍDIOSRepasses da prefeitura a empresas de ônibus vêm crescendo (em R$ bilhões)

"TRANSPORTE NÃO É MERCADORIA"

Lolita Sala, 56, economista, foi uma das participantes do ato e apontou a importância do transporte público para a população para criticar o aumento.

"Em São Paulo, uma parte enorme da população utiliza o transporte público. E o transporte público não é uma mercadoria, é um direito que a balconista consiga chegar na farmácia para trabalhar, que a dona de casa consiga visitar sua prima que mora longe, são políticas públicas", opinou.

O professor de história Felipe Oliveira, 28, concordou e ressaltou que "os mais pobres utilizam o transporte público todos os dias e o prefeito tem que saber que eles não podem arcar com esses custos".

CONGELADA EM 2017

Em 2017, o valor unitário do ônibus, metrô e trem ficou congelado em R$ 3,80, após promessa de campanha feita por Doria. Em compensação, o valor da tarifa integrada entre ônibus e trilhos (metrô ou trem) teve reajuste de 14,8%, chegando a R$ 6,80. A medida, que chegou a ser suspensa por três meses pela Justiça, motivou uma série de protestos na capital, que não surtiram efeito.

O MPL foi criado em 2005 com a bandeira da "tarifa zero", defendendo gratuidade total do transporte coletivo. O movimento, porém, só ganhou expressão em 2013, quando organizou os atos contra o aumento de R$ 0,20 no valor da tarifa em São Paulo (de R$ 3 para R$ 3,20, na ocasião), que acabaram se espalhando por todo o país depois do aumento da repressão policial aos protestos.

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