Em ano de recordes, homicídio cai e roubo de carga cresce em SP em 2017

Crédito: Keiny Andrade - 17.dez.15/Folhapress Carro de empresa de segurança faz escolta de caminhão na rodovia dos Bandeirantes, na Grande SP
Carro de empresa de segurança faz escolta de caminhão na rodovia dos Bandeirantes, na Grande SP

ROGÉRIO PAGNAN
DE SÃO PAULO

Os índices de violência bateram recordes em São Paulo em 2017. Tanto positivamente, caso dos homicídios dolosos, quanto negativamente, situação dos roubos de carga.

O principal dado positivo, de acordo com os números divulgados pelo governo paulista nesta quarta (24), é o recorde na taxa de homicídios dolosos que chegam a 8,02 por 100 mil habitantes –a menor desde 2001.

Naquele ano, a taxa de assassinatos era de 35,6 por grupo de 100 mil no Estado.

Em número absolutos, os crimes passaram de 3.674, em 2016, para 3.503, redução de 4,65%.

"É uma marca que eu reputo muito importante. Não estamos falando de números simplesmente. São vidas que estão sendo poupadas", disse o secretário de Segurança Pública, Mágino Alves Barbosa Filho. "É algo significativo e torcemos para que continue assim".

Pelas contas do governo apresentadas pelo secretário, considerando que em 2001 essa taxa era acima de 35 mortes por grupos de 100 mil habitantes, a redução ao longo dos anos significa 130 mil vidas poupadas nesse período.

No país, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a taxa de mortes violentas intencionais foi, em 2016, de quase 30 por 100 mil –no Sergipe, por exemplo, essa taxa chegou a 64.

Na capital, também recorde, a taxa de homicídios dolosos chega a 6,1 vítimas por 100 mil. Em 2001, essa taxa era de impressionantes 49,16.

"Isso [nova queda] é impressionante, ainda mais em um contexto em que os homicídios estão crescendo praticamente no país todo. Justamente por isso, que seria importante a gente compreender melhor quais são as razões envolvidas na redução dos homicídios", diz Samira Bueno, diretora-executiva do FBSP.

Compreender, ainda segundo ela, para poder reproduzir a fórmula em outras unidades do país.

Também pelo lado positivo, embora ainda com números bastante elevados, os crimes de roubo e furto de veículos tiveram nova redução. É terceira redução desde 2014. Os roubos foram de 77.949, em 2016, para 67.670 em 2017, queda de 13,1%, enquanto os furtos foram de 110.932 para 104.799, queda de 5,6%.

Pelo lado negativo, dados divulgados pelo governo paulista nesta quarta-feira mostram que o Estado registrou no ano passado a maior quantidade de roubos de cargas em um só ano desde 2001 (início da série histórica): foram registrados 10.584 crimes.

Esse resultado significa um incremento de 6,6% em comparação a 2016, quando ocorreram 9.943 crimes, ano que também houve meses com aumentos recordes –especialmente no último trimestre.

Um exemplo do impacto desse tipo de crime pode ser medido na periferia de São Paulo que sofre restrição de entrega de produtos pelos Correio, total ou parcial. Conforme reportagem publicada pela Folha, praticamente um terço da cidade de São Paulo (cerca de 4,5 milhões de pessoas) é atingido.

Para o sociólogo Luis Flávio Sapori, o aumento dos roubos de carga –assim como a manutenção de roubos e furtos em elevados índices– demonstra que o Estado não investiu na investigação dos crimes patrimoniais como investiu nos assassinatos.

"Essa elevação demonstra que os crimes de roubo ainda não mereceram atenção devida prioridade por parte do governo estadual. Essa talvez seja uma contradição de São Paulo que deve seguir de exemplo, de discussão, para o restante do país: não adianta reduzir só homicídios. A violência no Brasil não se define apenas pelos homicídios. A violência cotidiana no país se define também pelos homicídios, roubos, estupros."

Mágino diz que não vê problema de prioridade no combate aos crimes patrimoniais até porque, segundo ele, os indicadores tem apresentado reduções em quase todos tipo de crimes. No roubo de carga, exemplo citado por ele, ocorreram quatro meses seguidos de queda no final de 2017.

Sobre a situação dos Correios na capital, com problemas devido a quantidade desse tipo de ataque, Mágino amenizou o quadro. Disse que as entregas não são feitas na periferia por uma política da estatal, não porque falte segurança.

"É uma política deles. Se você pegar qualquer outra empresa de transporte, ela entrega em qualquer lugar da cidade de São Paulo."

Ainda pelo lado negativo, as estatísticas oficiais divulgadas nesta quarta pelo secretário da Segurança também revelam um aumento de 10,3% nos registros de estupro no ano passado em relação a 2016. Eles passam de 10.055 casos naquele ano para 11.089 no ano passado.

Desde 2009, quando houve alteração da legislação, são considerados estupros todos os ataques sexuais contra homens e mulheres. Até então, só eram considerados estupros penetração vaginal. Tanto o secretário quanto os especialistas não tem uma explicação científica desse elevação.

Os furtos em geral ficaram praticamente estável, com elevação de 0,14%: foram de 514.892 para 515.594. Já os roubos em geral caíram 6%, indo de 323.274 para 303.906.

Em sua metodologia, o Fórum inclui os homicídios praticados por policiais de folga e serviço. Em São Paulo, o governo exclui a letalidade policial de suas contas. Por esses dados, a taxa paulista sobe para 11 mortes para cada grupo de 100 mil pessoas.

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