THIAGO AMÂNCIO
DE SÃO PAULO

Se São Paulo se aproxima de seu limite e hoje a maior parte das novas construções está nas franjas da cidade, um grupo ainda consegue construir em locais centrais.

O recorte dos dados do IPTU pelo valor do metro quadrado mostra que construções de alto padrão ainda são erguidas próximo do centro da cidade, como nos Jardins e na Bela Vista a partir de 2000.

Também houve um espraiamento entre a elite da cidade, mas em boa parte concentrado no centro expandido, mostra o levantamento da Folha. Salvo exceções, os locais de construção a partir de 2000 não estão tão distantes dos da década de 1930.

SP, 464

À época, a elite da cidade ainda estava ligada à cultura do café e vivia em casarões na região central (como nos Campos Elíseos), em Higienópolis ou na avenida Paulista.

É lá que está o palacete Franco de Mello, erguido em 1905 e habitado até hoje, ainda que por fora esteja em mau estado de conservação.

A primeira expansão de prédios aconteceu a partir de 1928, com lei que, pela primeira vez, regulou a construção e operação de condomínios no país, que já começavam a se espalhar com a popularização de elevadores e do concreto armado, quando começaram a surgir edifícios residenciais na avenida São João, no centro, por exemplo.

"Mas a elite não concordava em morar de forma empilhada, tinha a ideia de que isso era um cortiço", explica José Geraldo Simões Júnior, professor de arquitetura e urbanismo do Mackenzie.

"Isso só começou a mudar a partir dos anos 1940 e 1950, quando começou a haver grandes prédios em Higienópolis, assinados por arquitetos importantes", diz ele.

É o auge do modernismo, época de ouro da arquitetura paulistana, com prédios ainda hoje cultuados, com seus vãos abertos à calçada e janelas grandes. É o caso do edifício Louveira, na Vila Boim, do arquiteto João Batista Vilanova Artigas, um dos poucos que não foi cercado por grades.

São dois apartamentos por andar, com 140 m² cada, em seus dois prédios de sete andares. O aluguel ali não sai por menos de R$ 5.000, e o condomínio, R$ 1.700. Uma unidade é avaliada em cerca de R$ 1,8 milhão.

As mudanças da elite, contudo, não foram lineares, lembra a professora da USP Mônica Junqueira. "Tem uma diversidade muito grande, não é homogêneo. Muita gente saiu de casarão e sobrado e foi morar em prédio, mas muita gente foi morar também em casas nos Jardins", afirma a urbanista.


Imóveis mais caros da cidade (a partir de R$ 934/m²), por década de construção

Se concentram no centro expandido, com exceção de bolsões nas zonas leste e norte

Crédito: Folhapress

CONDOMÍNIOS FECHADOS

A febre dos condomínios fechados veio a partir dos anos 1970 (horizontais) e anos 1980 (verticais), com a construção do Ilhas do Sul, no Alto de Pinheiros, e do Portal do Morumbi, diz Simões Júnior.

Depois, veio a moda dos prédios neoclássicos, resgatados por uma classe emergente, que remetem ao estilo imperial trazido por franceses ao Rio, explica o professor.

Alguns dos últimos remanescentes do estilo estão na rua Frederic Chopin, nos Jardins, pequena e monitorada por seguranças.

No St. Patrick, por exemplo, lançado em janeiro de 2017, são três prédios de 17 andares, com um apartamento por andar de 454 m². As plantas variam, mas há, no mínimo, quatro suítes. O metro quadrado é avaliado em R$ 30 mil.

No total, 240 funcionários trabalham ali –36 deles são seguranças. Há em cada um dos prédios piscina, sauna, academia e salão de festas. Os apartamentos têm seis vagas na garagem, além de oito para visitantes.

"É um dos mais humildes da rua, onde moram os filhos dos bacanas", diz um funcionário de um dos prédios. No St. Paul, ainda em construção, cada apartamento terá até 864 m² e 12 vagas na garagem (25 para visitantes).

O levantamento da Folha mostra que há também bolsões de construções caras nas zonas leste e norte da cidade a partir dos anos 1980, fora do "vetor sudoeste", onde se concentrou a expansão da elite.

"São grandes conjuntos habitacionais que abrigam em geral pessoas que têm algum vínculo com o bairro, pessoas que enriqueceram e querem continuar ali", explica a urbanista Mônica Junqueira.

É o caso de condomínios luxuosos na região de Anália Franco, com muros altos e sem traços arquitetônicos marcantes, segundo os arquitetos consultados pela Folha. "É o mercado tentando atender um gosto mais popular", diz Junqueira. "Não têm uma marca, esses edifícios vendem uma ideia de segurança."

Grandes condomínios, porém, perderam força nos últimos tempos, afirma Simões Jr. "Você precisa ter áreas muito grandes, o que hoje em dia é difícil. A não ser em áreas como a Barra Funda, onde há grandes indústrias desativadas e ainda há espaço para construir."

Crédito: ONDE ESTÃO OS IMÓVEIS, POR DÉCADA DE CONSTRUÇÃO

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