Mutirão da vacina começa com filas, desinformação e apoio policial em SP

DHIEGO MAIA
THIAGO AMÂNCIO
DANILO VERPA
DE SÃO PAULO

Se a capital paulista está de feriado pelos seus 464 anos de fundação nesta quinta-feira (25), a situação é bem diferente nos postos de saúde da cidade.

No primeiro dia da campanha emergencial de vacinação fracionada contra a febre amarela na capital, as unidades básicas de saúde amanheceram com público desinformado em filas enormes.

Ao todo, 94 mil pessoas foram atendidas no primeiro dia, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, sendo que 91.425 receberam a dose fracionada da vacina e 3.366, a dose padrão. Em casos específicos, como o de crianças de nove meses a dois anos incompletos e o de grávidas, só a padrão é indicada.

A Folha visitou unidades da zona sul, última região inserida no mapa das áreas com risco de contaminação após um macaco ter morrido por febre amarela no zoológico.

Nos locais, a falta de senhas de vacinação, que passaram a ser distribuídas pela prefeitura na terça-feira (23), foi a principal causa das aglomerações. Na UBS Vila Praia, distrito de Vila Sônia, guardas-civis precisaram controlar os ânimos das pessoas que, irritadas, se amontoavam numa fila que dobrava o quarteirão, por volta das 8h59.

Uma funcionária do posto precisou se dirigir até a fila para informar as pessoas de que só iriam se vacinar ali quem já estava com a senha em mãos. "Cada posto está fazendo a sua organização. Aqui só vai se vacinar quem tiver com a senha que já foi distribuída ontem [quarta, 24]", disse.

Shirley Franklin, 40, procurou a Unidade Básica de Saúde do Cupecê, no Jabaquara. Saiu de lá sem se vacinar porque o posto está fora da área de sua casa, próximo ao zoológico. Ela disse à reportagem que não sabe se algum agente de saúde passou em sua casa para distribuir a senha. "Trabalho o dia todo fora, se passou, não sei", diz. "Dá uma raiva porque você vem até aqui e não consegue. Agora não sei o que vou fazer."

Quem ainda não recebeu a senha e não é cadastrado em nenhum posto de saúde da capital, pode procurar uma unidade mais próxima de casa durante a vigência da campanha. No local, precisará apresentar um comprovante de endereço e mais um documento com foto para receber a senha e agendar o processo de vacinação.

Febre Amarela

Na UBS Arariba, na Vila Andrade, a fila era grande por volta das 8h, quando o posto abriu. Porém, a situação já estava normalizada por volta das 9h30 —cerca de 30 pessoas esperavam pela vacina.

Na UBS Maracá, no Capão Redondo, o mesmo problema: muita fila nas primeiras horas do atendimento.

Já na UBS do Cupecê, no Jabaquara, a movimentação era tranquila e com poucas filas. Mesmo com horário marcado para as 12h, Vânia Cecilia, 55, preferiu ir cedo à unidade "para não se arriscar". Quando chegou, "separaram a fila das 11h e a fila das 12h. Deu a hora e me chamaram rapidinho, foi super organizado".

Crédito: Editoria de arte/Folhapress

CASA EM CASA

Para alcançar o maior número de pessoas que realmente precisam tomar a vacina, agentes de saúde passarão de casa em casa para distribuir senhas em zonas consideradas prioritárias.

A ação prevê atingir a população que vive nas áreas de risco —na capital, são 20 distritos das zonas leste e sul da cidade.

Cristina Shimabukuro, coordenadora do departamento de vigilância e saúde da gestão Doria (PSDB), disse que as senhas "serão distribuídas conforme a capacidade que cada unidade de saúde básica tem para vacinar".

O objetivo, segundo Shimabukuro, é reduzir os tumultos e as filas.

CAMPANHA

A expectativa do governo federal é vacinar 23,8 milhões de pessoas durante a campanha –10,3 milhões em SP, 10 mi no RJ e o restante na Bahia.

Fracionar a vacina foi a estratégia adotada pelo ministério da Saúde para alcançar mais gente não imunizada.

O governo diz que tem estoque de vacina suficiente para imunizar toda a população, mas não informa o total de doses disponíveis por ser uma questão "estratégica".

Neste ano, o Ministério da Saúde vai receber 48 milhões de doses do Instituto Bio-Manguinhos, ligado à Fiocruz, maior produtor mundial da vacina contra a febre.

Nesta quinta, o ministro Ricardo Barros (PP-PR) anunciou uma parceria com o Libbs, laboratório privado, para finalizar as doses de Bio-Manguinhos e, com isso, ampliar a capacidade anual de produção em 48 milhões de doses.

O laboratório fará só a finalização da vacina (envase, liofilização e embalagem), e a expectativa do governo é de começar a receber essas doses até junho, após liberação da Anvisa. O ministério diz que isso não vai alterar o custo final da vacina, comprada pelo governo a R$ 3,50.

A parceria, no entanto, não altera o estoque previsto para este ano, que ainda ficará em 48 milhões.

O governo diz que encaminhou 57,4 milhões de doses da vacina aos Estados desde o ano passado, a maior parte para SP (18,3 milhões), RJ (12 mi) e MG (10,7 mi).

O Ministério da Saúde contabiliza, até agora, 130 casos de febre amarela no país desde 1º de julho, com 53 mortes. O Estados, porém, contabilizam mais. Só SP e MG informam 60 mortes até agora.

Dados mostram que o vírus da febre amarela tem agido rápido e deixado um rastro de vítimas num curto intervalo de tempo. Segundo o ministério da Saúde, a taxa de letalidade provocada pela doença no país atingiu 40,8%.

Colaborou FERNANDA PEREIRA NEVES

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