Descrição de chapéu fortaleza

Após chacina, conselho de segurança do Ceará pedirá intervenção federal

Crédito: Reprodução/Facebook Criminosos invadem festa, matam várias pessoas e ferem dezenas em Fortaleza
Criminosos invadem festa e matam 14 pessoas em Fortaleza

THAYS LAVOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM FORTALEZA

O Conselho Estadual de Segurança Pública do Ceará pedirá intervenção de forças federais no Estado, que vive o aumento da violência urbana. Na madrugada deste sábado (27), um grupo abriu fogo em uma festa em Fortaleza, deixando 14 mortos e 16 feridos.

Vinculado ao gabinete do governador Camilo Santana (PT), o órgão já havia pedido intervenção no dia 12, quatro dias após a primeira chacina no Ceará –que vitimou quatro pessoas e feriu três na cidade de Maranguape.

Na ocasião, foi solicitada ao secretário de Segurança, André Costa, uma proposta de enfrentamento à guerra do tráfico que ocorre na região.

As facções Guardiões do Estado e Comando Vermelho disputam a venda de drogas no Estado. O Primeiro Comando da Capital (PCC) tem apoiado os traficantes locais com o objetivo de dominar essas regiões, mas grupos rivais têm reagido à expansão, o que causa violentos conflitos nas cidades e nas cadeias.

"Diante desta situação de completo descontrole, irei ativar a OAB-CE para debater essa questão na próxima sexta, e iremos rediscutir o pedido de intervenção federal", disse Leandro Vasquez, presidente do conselho, que é composto por representantes do Executivo, da OAB, do Ministério Público e de outras entidades.

Vasquez afirma que o Ceará vive um momento crítico da violência, seja nas ruas, seja nos presídios. "No final de 2017 batemos o recorde histórico de homicídios. Tínhamos no ano passado uma média de 14 homicídios por dia. Quando iniciamos 2018, com as duas chacinas que já ocorreram, essa média se elevou para 18 mortes por dia."

De acordo com ele, o secretário estadual já havia sido instado a expor em reunião um plano para enfrentar a escalada da violência, mas não compareceu ao encontro, ocorrido no dia 22. Um outro representante do Executivo presente, então, teria apresentado propostas recicladas de um projeto anterior.

"O que foi apresentado é uma espécie de carta de intenções, com muitos verbos no infinitivo, como 'elaborar', 'construir', ou seja, não há concretude nem medidas urgentes de reação", disse.

No sábado, repercutiu mal a declaração do secretário de Segurança do Ceará de que a chacina seria um caso isolado. Segundo o jornal "O Povo", 46 morreram em chacinas no Estado só em 2017.

Neste domingo (28), o governador anunciou após reunião entre integrantes da segurança, Judiciário e Legislativo, uma força-tarefa para enfrentar as facções criminosas, acompanhar a apuração do caso e prestar assistência às famílias.

O Ministério da Justiça informou, em nota, que também formou uma força-tarefa para auxiliar o Estado com investigação e informações de inteligência, "para reprimir de forma exemplar" a ação de criminosos envolvidos na chacina. Fazem parte do grupo membros da Secretaria Nacional de Segurança Pública, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Departamento Penitenciário Nacional.

O informe diz que o ministro Torquato Jardim "reafirma que a União seguirá cumprindo o papel de oferecer apoio técnico e financeiro aos Estados, como vem fazendo regularmente, para que os órgãos de segurança pública trabalhem de forma integrada e harmoniosa, ainda que os governantes não solicitem apoio por razões eminentemente políticas".

Crédito: Editoria de arte/Folhapress

CHACINA

No sábado, por volta da 0h30, um grupo que usava três carros abriu fogo contra uma festa popularmente conhecida na região como Forró do Gago. Homens da GDE teriam como alvos traficantes do CV que estariam no local. Segundo testemunhas, a ação levou pânico ao bairro. Pessoas sem qualquer relação com a disputa do tráfico foram atingidas.

A ação foi a maior chacina da história do Ceará. Além das 14 pessoas que morreram, outras 16 ficaram feridas. Ao menos oito pessoas baleadas permanecem no hospital para atendimento. Seu estado de saúde é estável e estão sendo feitas avaliações com relação à necessidade ou não de cirurgias.

A polícia prendeu ainda no sábado um suspeito de participar da chacina. Neste domingo, o governador afirmou que mais cinco já foram identificados. Há a suspeita de que pelo menos 15 homens fortemente armados tenham participado da ação.

VIOLÊNCIA

O Ceará está entre os Estados que apresentam os piores índices de violência do Brasil.

No relatório Atlas da Violência 2017, divulgado em junho do ano passado, aparece com a terceira mais alta taxa de homicídios: 46,75 por 100 mil habitantes. Apenas Sergipe (58,09) e Alagoas (52,33) têm índices piores. A melhor taxa é a de São Paulo (12,22).

Entre as capitais, Fortaleza tem a segunda maior taxa de homicídios, com 66,72, perdendo somente para São Luis (MA), com 70,58.

Elaborado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o estudo analisou dados do SIM (Sistema de Informação sobre Mortalidade), do Ministério da Saúde, até 2015.

Naquele ano houve no Brasil 59.080 homicídios, o que equivale a uma taxa de 28,9 por 100 mil habitantes.

Divulgado em outubro de 2017, o IHA (Índice de Homicídios na Adolescência) aponta o Ceará como o Estado em que mais adolescentes são assassinados (8,71 a cada 100 mil). A métrica foi elaborada pelo Unicef, o Observatório de Favelas e a Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, do governo federal.

Fortaleza lidera o ranking entre as capitais, com 10,74, ante 2,2 na cidade de São Paulo. A medição é feita com dados de 2014, os últimos disponíveis, e considera apenas as 300 cidades do país com mais de 100 mil habitantes.

Crédito: Cid Barbosa - 27.jan.2018/Diário do Nordeste Carro queimado usado por bandidos em chacina na periferia de Fortaleza neste sábado
Carro queimado usado por bandidos em chacina na periferia de Fortaleza neste sábado
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