Descrição de chapéu carnaval

'Blocos da vizinhança' festejam seus bairros e se contrapõem aos gigantes

Pequenos desfiles organizados por moradores se enfileiram em São Paulo

Mariana Zylberkan
São Paulo
Maicon Teixeira Ramos, 43, criador do Azaração Casaverdense
Maicon Teixeira Ramos, 43, criador do Azaração Casaverdense - Karime Xavier / Folhapress

Enquanto os megablocos arrastarem multidões por avenidas da cidade de São Paulo neste Carnaval, em alguns bairros uma espécie de movimento de resistência da folia local também irá mobilizar foliões. Essas turmas estarão voltadas à vizinhança e a festejar a localidade onde vivem.

Longe da avenida 23 de Maio, escolhida pela prefeitura para abrigar os megablocos, pequenos desfiles organizados por moradores, muitas vezes com ajuda de comerciantes das redondezas, enchem a programação oficial organizada pela gestão do prefeito João Doria (PSDB). 

A Casa Verde, na zona norte, será uma das localidades com folia bairrista. Um bloco estreante pretende recriar no próximo sábado (17) os primórdios do Carnaval de rua, antes mesmo da criação das escolas de samba.

Muitas tiveram origem nos chamados cordões que saíam pelas ruas antigamente.

O Azaração Casaverdense quer recriar esse clima nostálgico para atrair o público do bairro, historicamente carnavalesco por ser vizinho do Sambódromo, mas até então sem um Carnaval de rua para chamar de seu.

“Vamos ter casal de mestre sala e porta bandeira e até passistas. Queremos retomar como era a folia de rua antigamente, que se perdeu com a chegada dos trios elétricos e dos megablocos”, diz o organizador Maicon Teixeira Ramos, 43.

O aumento de 25% no número de blocos cadastrados pela prefeitura neste ano em comparação com o ano passado, em grande parte, é alimentado por desfiles locais menores, com público estimado em até mil pessoas. 

Os números representam um feito no Carnaval de rua de São Paulo que, neste ano, irá superar pela primeira vez o Rio de Janeiro em número de blocos. A capital paulista terá 491 blocos, e o Rio, 473.

Vizinhança

Outro bloco estreante teve como inspiração o bairro em que foi criado. O Cecílias e Buarques nasceu de um grupo virtual de moradores dos bairros de Santa Cecília e Vila Buarque, na região central, que funciona como uma espécie de classificados entre os vizinhos.

No fim do ano passado, um dos integrantes, Diego Leporati, 32, teve a ideia de transformar a comunidade on-line em bloco de Carnaval. 

“O grupo foi crescendo porque tem muita gente legal. Fiquei maravilhado quando me mudei para a região e fui aceito. Como sou festeiro para caramba e adoro carnaval, a ideia encaixou bem”, diz Leporati.

A homenagem aos bairros inspirou até uma performance que irá dar o tom do desfile. Dois bonecões vão interpretar o casal Cecília e Buarque que, no meio do cortejo, irá gerar o Minhocão, via que corta os bairros. Uma minhoca gigante feita com dez metros de tecido irá serpentear entre os foliões no próximo sábado (17).

“É uma forma também de chamar atenção da população para a necessidade de criar o parque Minhocão”, diz ele sobre o projeto que ainda tramita na Câmara Municipal. 

Sotaque


A folia organizada longe da muvuca também ajuda a distribuir o Carnaval de rua por bairros onde tradicionalmente era só calmaria no feriado. 

Até alguns anos atrás, quem morava na Mooca, na zona leste, tinha que se deslocar para outras regiões para participar da festa. Neste ano, a folia chegou até lá e estão previstos ao menos seis desfiles pelas ruas do bairro.

O sotaque tão típico de quem vive no bairro inspirou a criação de pelo menos três deles: Mooressaca, Orra Belo e Moocalor, Meô!.

“Vivemos em um bairro com uma área grande, mas que quase não tinha desfiles de Carnaval”, diz o advogado Ion Miranda, 34, organizador do Moocalor, Meô!, programado para sair em desfile pelas ruas neste sábado (10).

Foi justamente a escassez de confete e serpentina na vizinhança que o mobilizou para criar o bloco estreante.

“Até nos totens [de programação] da prefeitura só tem desfiles no centro, Vila Madalena e Pinheiros. São raros os que saem fora desse eixo na cidade”, diz ele, que convidou o cantor brega Falcão para cantar marchinhas em cima do trio elétrico. 

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