Blocos diminuem divulgação para conter explosão de público do Carnaval de BH

Em 2016, eram cerca de 200 blocos cadastrados pela prefeitura. Em 2018, são 480.

Belo Horizonte

Todos os anos, Belo Horizonte tem o maior Carnaval da sua história. Em 2016, eram cerca de 200 blocos cadastrados pela prefeitura. Em 2018, são 480 —muitos desfilarão mais de uma vez. No mesmo período, o número de ambulantes autorizados pulou de 3.400 mil para 9.600 mil.

Foliões mais atentos vão perceber, porém, que blocos tradicionais e simbólicos do Carnaval de BH não estão listados na programação oficial da prefeitura, apesar de terem feito cadastro para garantir apoio de segurança, trânsito e banheiros.

Bloco Então, Brilha na tarde deste sábado (10) em Belo Horizonte - Carolina Linhares/Folhapress

Segundo a Belotur, empresa de turismo de BH, cerca de 20% dos blocos cadastrados não autoriza a divulgação. São, em geral, blocos que atraem mais de 30 mil pessoas e adotam a estratégia para tentar conter a explosão de público.

"O crescimento do Carnaval não está sendo de forma gradativa, como esperado, está sendo exponencial, e a gente não dá conta de acompanhar e projetar com precisão", diz Marcela Pieri, produtora do Juventude Bronzeada, que desfila nesta terça (13).

Segundo ela, o bloco reuniu 600 pessoas em seu primeiro ano, em 2014. No ano seguinte, eram 7 mil; depois 30 mil e, no ano passado, o público chegou a 50 mil.

"Restringimos a divulgação às nossas redes sociais para tentar colocar o crescimento do público em linha com o crescimento da estrutura do bloco", completa. O Juventude Bronzeada costuma divulgar local e hora de concentração somente dias antes, na sexta-feira.

A divulgação contida também já é tradição do Então, Brilha, um dos principais blocos de BH, que afirmou ter reunido 150 mil foliões no ano passado. Neste sábado (10), não foi diferente: o bloco atraiu uma multidão rosa e dourada pelo centro da cidade desde a madrugada.

O Então, Brilha não tem hora definida —sai junto com o sol e vai até 11h. "É algo lúdico e também uma questão de controle de público, porque se marcarmos horário ou sairmos mais tarde, não ia dar para andar", diz Di Souza, maestro e organizador.

A expansão do Carnaval foi uma surpresa mesmo para o bloco que, nascido em 2010, foi um dos pioneiros no movimento de contestação política e ocupação do espaço público que desencadeou o ressurgimento da folia de rua em BH.

"Começou a ficar grande demais e a gente preza por manter o nosso trajeto por uma questão ideológica. Não queremos sair da rua Guaicurus", afirma. A área degradada e de prostituição foi adotada pelo bloco, que prega que todas as pessoas brilhem, respeitando as diferenças.

Neste ano, o Então, Brilha chegou a preparar uma vaquinha online para "sustentar um desfile tão grandioso e suas demandas". Arcar com os recursos para os blocos é outro desafio trazido pelo boom do Carnaval.

"Vai ficando cada vez mais caro", diz Laila Heringer, fundadora e produtora do Tchanzinho Zona Norte. "Aumenta muito o público e a gente não consegue capitalizar tanto o bloco."

Para Heringer, é difícil "acompanhar a demanda" de mais de 30 mil foliões. É necessário carro de som maior e mais infraestrutura.

"Quanto mais gente tem, mais difícil é manter o público afastado do carro de som, como determinam os Bombeiros, por exemplo. A festa de rua, ela brota."

O Tchanzinho foi um dos que não apareceu na programação oficial da cidade, embora tenha feito ampla divulgação nas redes sociais. No desfile desta sexta (9), o bloco lançou seu hino nas ruas do bairro Dona Clara, na zona norte, seguindo sua proposta de descentralização.

PRODUTO TURÍSTICO

A descentralização foi uma preocupação também da Prefeitura de Belo Horizonte neste ano. Além de cinco palcos com programação musical na área central de BH, outros quatro foram instalados pela cidade, inclusive em periferias da zona norte e sul.

Ainda assim, as regiões centro-sul (47%) e leste (15%) concentram os blocos de rua.

"Estimulamos palcos e blocos em todas as regionais para que, descentralizando o Carnaval, ele possa crescer dando tempo ao tempo e com condições", afirma o presidente da Belotur, Aluizer Malab, à Folha.

Malab reconhece que os blocos têm tido que se profissionalizar e se organizar ao longo do ano para atender o público. "Esse formato do Carnaval da ocupação das ruas, do crescimento dos blocos é surpreendente em todo o país", disse.

"Do ponto de vista turístico, para uma cidade sem praia como BH, o Carnaval traz um verão. Aproveitamos os ensaios e os preparativos para fazer um exercício pleno de cidade", completa Malab.

A ideia é que a festa dos blocos impulsione também as atividades culturais, bares, restaurantes e hotéis de BH. A ABIH-MG (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis) estima uma taxa de ocupação média de 60%.

É esperado ainda um aumento de 20% no faturamento dos bares e restaurantes, segundo a Abrasel-MG (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), que promove o Carnaval Gastrô no período.

O festival traz pratos e petiscos da culinária mineira pensados para o Carnaval e com preços promocionais (a partir de R$ 10) em 38 estabelecimentos.

"É uma opção para atender o folião entre um bloco e outro", diz Ricardo Rodrigues, presidente da Abrasel. "Tínhamos um número muito grande de estabelecimentos que não abriam no Carnaval, porque era sabido que não dava movimento. Agora isso mudou."

A prefeitura espera que o Carnaval movimente R$ 637 milhões de 27 de janeiro a 18 de fevereiro, período oficial de festas. No ano passado, a receita direta e indireta alcançou R$ 531 milhões.

Para bancar as expectativas, o patrocínio privado também aumentou —de R$ 1,5 milhão para R$ 3,6 milhões.

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