Descrição de chapéu Alalaô carnaval

Blocos 'discretos' fogem da muvuca e convocam foliões boca a boca em SP

Objetivo desses foliões é uma tentativa de controlar o tamanho de seus desfiles pelas ruas

 Eduardo Anizelli/Folhapress, COTIDIANO) ***EXCLUSIVO***
Gabriel Ribeiro e Nathalia Takenobu organizam o Bloco Secreto, que terá itinerário divulgado apenas no dia do desfile - Eduardo Anizelli/Folhapress
Mariana Zylberkan
São Paulo

Nem só de muvuca vive o Carnaval de rua de São Paulo. Há blocos que querem passar longe daquela multidão de foliões capaz de surpreender até veteranos da folia.

Os unidos do "não me segue" têm evitado divulgar os locais de concentração e aderido apenas à tática do boca a boca para atrair o público na tentativa de controlar o tamanho dos desfiles.

Essa intenção motivou ao menos 41 organizadores de blocos a não autorizarem a Prefeitura de São Paulo a incluí-los na programação oficial durante o processo de cadastramento. O número representa 10% dos cadastrados para sair pelas ruas da cidade neste Carnaval.

O quesito surpresa norteou a organização do Bloco Secreto, que só terá o trajeto divulgado no dia do desfile por meio de mensagens de celular repassadas pelos seus integrantes a amigos. "Vamos pegar uma caixa de som e sair pelas ruas", explica Gabriel Ribeiro, um dos organizadores do Bloco Secreto.

Nesse caso, a intenção do Carnaval minimalista é permitir que seus integrantes se divirtam. Ribeiro conta que organiza também outro bloco, o Agrada Gregos, transferido neste ano das ruas do Bixiga, na região central, onde costumava sair, para a avenida 23 de Maio, após ter sido alçado ao status de megabloco.

A via foi escolhida pela prefeitura para abrigar o desfile de blocos que costumam atrair mais de 100 mil pessoas.

"A gente mais trabalha do que aproveita. Por isso, organizamos um bloco para nos divertir", diz o organizador sobre o desfile marcado para o domingo (18), último dia do pós-Carnaval. "Queremos fechar com chave de ouro."

SEM REDE SOCIAL

Na contramão da estratégia "quanto mais gente melhor", os organizadores do Baco do Parangolé cancelaram evento criado na página do bloco no Facebook para informar sobre a festa de esquenta feita no último domingo (4), quando viram passar a barreira de 50 mil pessoas confirmadas. "Não queremos aumentar a estrutura para abrigar um público maior", diz Pedro Bruschi, 30, um dos organizadores do bloco.

A estrutura, no caso, são caixas de som que vão em cima de um pequeno caminhão emprestado pelo seu vizinho, dono de um sebo, que faz carretos. "Estamos acostumados a sair em ruas pequenas de bairro e gostamos de ter contato com a vizinhança. Se vem muita gente, fica espremido e os músicos ficam distantes do público", diz Bruschi, que espera atrair cerca de 3.000 pessoas para o desfile marcado domingo (11) nas ruas de Pinheiros, zona oeste.

É em um bairro vizinho, também na zona oeste que irá desfilar mais um bloco que prefere manter a programação na boca pequena.

SEGREDO

Sem se identificar nem permitir a veiculação do nome do bloco, muito menos seu trajeto, um dos organizadores disse que a estratégia é seguida desde o ano passado como forma de tentar manter o desfile de um tamanho que caiba nas ruas do bairro.

Além disso, ele defende que deixar o público sob medida ajuda a disseminar o conceito de Carnaval pulverizado, espalhado pela cidade toda e, assim, preservar as características de cada região, em detrimento à folia de massa que reúne milhares de pessoas nos mesmos endereços: Pinheiros, Vila Madalena, República e Ibirapuera.

Neste primeiro bairro, no largo da Batata, a marca de cerveja patrocinadora do Carnaval instalou uma espécie de montanha-russa e um "chuveiro de glitter" para atrair os foliões. A aglomeração tem atraído um batalhão de ambulantes que transformou a área no entorno em uma "passarela do álcool" onde caixas de som tocam funk e música eletrônica.

A formação de um epicentro da folia, segundo o organizador, interessa mais às patrocinadoras e aos que querem lucrar com o Carnaval de rua do uma forma de representar a manifestação cultural da festa de rua. Apesar de terem uma página no Facebook, meio de divulgação mais usada pelos blocos, quase nada é postado e a ideia é desativá-la no próximo ano.

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