Descrição de chapéu Alalaô

Blocos reclamam de regras e prometem desfile clandestino em SP

Grupos estão incomodados com excesso de regras do Carnaval de rua

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo
Foliões no Arrastão dos Blocos durante a madrugada no Carnaval de 2017, em frente à sede da Prefeitura de São Paulo
Foliões no Arrastão dos Blocos durante a madrugada no Carnaval de 2017 - Luís Dávila - 1º.mar.2017/Vila Imagem/Folhapress

Em meio à massa de 491 blocos inscritos para comandar o Carnaval neste ano na cidade de São Paulo, há uma pequena parcela que se articula por fora para ocupar as ruas em protesto às ações do prefeito João Doria (PSDB) na organização do evento.

Ao menos cinco blocos clandestinos se organizam para sair sem nenhuma autorização prévia da prefeitura.

O movimento conta com o apoio de cerca de 80 blocos e tem se comunicado por meio de reuniões e grupos de WhatsApp desde meados do ano passado, quando a administração anunciou mudanças nas regras. Em outubro, foi publicado decreto para disciplinar o Carnaval de rua.

Além de tornar mais rígido o controle sobre trajetos e horários dos desfiles, o texto alça a Secretaria de Prefeituras Regionais à primeira autoridade na organização.

De acordo com o último artigo do decreto, a pasta que cuida da zeladoria tem liberdade para editar normas “complementares” sem aviso prévio. “Isso nos causa insegurança. Focar na zeladoria e não no caráter cultural do Carnaval é uma forma de controle e cede ao argumento de que os blocos são uma grande baderna”, diz Gabriel Silveira, do bloco Vai Quem Qué, que desfila pelas ruas de Pinheiros desde 1981.

Segundo o decreto, blocos que fizerem desfiles clandestinos serão proibidos de participar do Carnaval do ano seguinte. Além disso, no caso de uso de carro de som, os organizadores podem ser multados com base na lei de trânsito, que prevê multa gravíssima de R$ 5.800 para quem interrompe o trânsito sem autorização. “A Constituição garante o direito à livre manifestação. A prefeitura deve organizar o Carnaval, e não ditar as regras”, diz o advogado Hugo Albuquerque, que irá defender os clandestinos.

A prefeitura informou que a troca de comando se deu para organizar melhor a festa cada vez maior —neste ano, são esperadas 4 milhões de pessoas. Além disso, o comando feito pelas prefeituras regionais permitiu mais diálogo entre moradores dos bairros e organizadores dos blocos, segundo a gestão.

A FAVOR

Outros blocos, porém, concordam com as alterações.

O Domingo Ela Não Vai, por exemplo, teve que deixar o centro velho da cidade para ocupar a avenida 23 de Maio. A via mais larga foi sugerida pela administração para dar melhor vazão às 100 mil pessoas esperadas.

“Ficou melhor. No centro, as ruas são muito apertadas e tem muita fiação dos trólebus, o que atrapalha a passagem do trio elétrico”, diz o sócio do bloco Alberto Pereira.

A troca de secretarias foi interpretada pelos organizadores de blocos clandestinos como uma forma de a gestão Doria ceder à pressão de associações de moradores, sua base eleitoral, contrárias à aglomeração de pessoas nas ruas.

Um indício citado é a proibição imposta pela Prefeitura Regional da Sé de os foliões ocuparem a praça Roosevelt, no centro da cidade.

Há três semanas, o ensaio do bloco Minhoqueens reuniu cerca de 4.000 pessoas, que extrapolaram os limites do bar onde era realizada a festa e tomaram a rua 13 de Maio, no Bexiga, na região central. A PM foi chamada e os foliões foram dispersos com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha.

Uma vez sob o guarda-chuva da pasta que cuida da zeladoria da cidade, os blocos tiveram que negociar novos itinerários e horários para poderem sair. Desfiles que costumavam se concentrar em pontos nevrálgicos, como na Vila Madalena e na avenida Rio Branco, próximo à cracolândia, foram remanejados para vias amplas, como o largo da Batata, em Pinheiros.

Neste ano, a avenida 23 de Maio tem sido vista pela prefeitura como o principal eixo onde vão passar desfiles que arrastam multidões.

O mesmo grupo de organizadores de blocos é contra a medida por acreditar que se trata de um embrião para criar em São Paulo um circuito comercial de Carnaval nos moldes da folia em Salvador, com a comercialização de abadas e camarotes. “O modelo está saturado e acaba com a espontaneidade”, diz Silveira, do Vai Quem Qué.

A desconfiança foi confirmada pelo prefeito  Doria durante entrevista para divulgar a programação oficial do Carnaval, na quarta (31). “É um teste que vamos fazer”, disse o prefeito, que não escondeu sua predileção pelo Carnaval de rua soteropolitano. “Desfilei por 14 anos em Salvador”, disse o tucano.

INICIATIVA PRIVADA

A participação da iniciativa privada é maior na gestão Doria do que nas anteriores. No último Carnaval da gestão Haddad, a prefeitura injetou R$ 7 milhões do total de 

R$ 10,5 milhões de investimento. Em 2017, os R$ 15 milhões orçados foram custeados por patrocínio de empresas. Neste ano, o custo é estimado em R$ 20 milhões e também será bancado pela iniciativa privada, no caso, uma gigante da indústria cervejeira. 

O contrato é alvo de investigação do Ministério Público sob suspeita de favorecimento de representantes da prefeitura à empresa ganhadora da concorrência. 

Para suprir a falta da infraestrutura oferecida pela prefeitura aos blocos cadastrados, os organizadores clandestinos têm recorrido a brigadas comunitárias formadas por moradores do entorno onde os desfiles devem ocorrer. Eles têm sido chamados, assim como quem participar dos blocos, a recolher o lixo após o desfile, por exemplo. 

Na esteira do Carnaval como manifesto, está confirmado pelo segundo ano consecutivo o desfile do Arrastão dos Blocos, que reúne cerca de 80 cordões carnavalescos durante madrugada da quarta-feira de cinzas no centro da cidade. Sem comunicação prévia, o desfile também pretende funcionar como uma forma de protesto.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.