'Casa amiga das minas' oferece ajuda contra assédio em Olinda

Grupo cria campanha contra o machismo no Carnaval

Paula Passos
Recife (PE)
Grupo atua em Olinda contra assédio a mulheres no Carnaval
Grupo atua em Olinda contra assédio a mulheres no Carnaval - Paula Passos/Folhapress

Poderia ser só mais uma casa colorida na conhecida rua do Bonfim, em Olinda, mas não. A casa alugada por 11 casais e cinco solteiros tem um cartaz na frente que chama a atenção. "Casa amiga das minas. Aqui a gente não atura assédio" é o texto colado na parede, que representa o que os integrantes do lugar pensam.

"Uma amiga publicou no Instagram perguntando quem gostaria de colaborar com uma campanha contra o machismo no Carnaval, ajudando as meninas que sofreram algum tipo de assédio, e eu resolvi colar o cartaz", disse Breno Sotero, 29, um dos organizadores do espaço.

Na prática, a turma hospedada tenta evitar rodinhas que incentivam o beijo forçado ou oferecem ajuda caso alguma menina sofra algum tipo de assédio durante os dias de folia.

No local, é possível encontrar fitinhas que são distribuídas para as mulheres que estão dispostas a ajudarem as outras em qualquer situação. Elas são cor de rosa e têm escrito o número do WhatsApp para fazer a denúncia anônima: (81) 99140-5869. Só em Pernambuco, em 2018, estão sendo distribuídas 25 mil fitinhas.

Grupo atua em Olinda contra assédio a mulheres no Carnaval
Grupo atua em Olinda contra assédio a mulheres no Carnaval - Paula Passos/Folhapress

A denúncia serve para a campanha #AconteceuNoCarnaval mapear os locais das ocorrências no Carnaval e contabilizar o número de assédios, por meio de uma parceria das ONGs Mete a Colher, Meu Recife e Women Friendly.

"Quarenta e duas casas toparam participar e distribuir as fitinhas em Olinda, além de lojas e blocos parceiros. Espalhamos ainda 100 informativos no Recife e em Olinda sobre a campanha", afirmou Camila Fernandes, representante da Rede Meu Recife.

Para o arquiteto Elder Oliveira, 32, hóspede da casa, os homens sempre foram muito agressivos com as mulheres no Carnaval: "A gente sempre fez muita besteira, mas todo dia tentamos aprender e sermos melhores como seres humanos", disse.

"Hoje eu sou casada com um dos meninos que estão aqui, mas antes eu notava que eles já eram respeitadores. Ainda assim precisam melhorar pequenos comportamentos. Percebo que as mulheres vêm empoderando seus maridos e essas campanhas também incentivam isso", contou a mulher de Elder, a também arquiteta Priscila Calazans, 30.

A servidora pública Bruna Dourado, 27, disse ter adorado a campanha: "Sei que os meninos daqui apoiam, porque a maioria já é casada, porque a gente sabe que quando se é solteiro pode ser diferente. Mas já é um passo essa mudança de perspectiva deles", afirmou.

No ano passado, com a hashtag  #AconteceuNoCarnaval nas redes sociais, de mensagens privadas e por meio de uma coleta presencial, o grupo mapeou 66 registros de assédio em Olinda e nos polos do Recife. De acordo com o relatório divulgado no site da campanha em 2017, o resultado mostrou que houve "omissão de socorro policial e um número grande de assédio a casais de mulheres".

Neste sábado (10), não houve nenhum pedido de ajuda na casa de parede amarela. Por outro lado, apenas no WhatsApp foram registradas, desde a sexta-feira (9), 12 relatos de assédio.

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