Feita às pressas, ação federal deixa vácuo de poder na segurança do RJ 

Saída de secretário foi única mudança na cúpula da segurança pública até agora 

Sérgio Rangel Nicola Pamplona Lucas Vettorazzo
Rio de Janeiro

Decretada às pressas pelo presidente Michel Temer, sem nenhum plano de ação em mãos, a intervenção no Rio provocou um vácuo de poder momentâneo na estrutura da segurança pública do Estado.

A intervenção foi anunciada na sexta (16) e aprovada nesta semana pelo Congresso. No dia do decreto, o então secretário de Segurança, Roberto Sá, entregou o cargo e deixou a chefia interinamente com seu número dois.

Temer nomeou como interventor o general do Exército Walter Braga Netto. Ele, que agora trabalha em seu plano de ação, é o chefe das forças de segurança, acumulando as pastas da Segurança Pública e da Administração Penitenciária, com PM, Civil, bombeiros e agentes carcerários.

A exoneração do secretário foi a única mudança ocorrida na cúpula da segurança até agora. O Coronel Wolney Dias, comandante-geral da PM, e o chefe de Polícia Civil, Carlos Augusto Leba, continuam em seus cargos, mas com a certeza de que serão substituídos na semana que vem.

Enquanto o interventor não conclui seu plano, delegados da Polícia Civil e comandantes de batalhões da PM estão sem orientação do comando das corporações. Seus chefes, virtuais dispensados, silenciaram sobre o presente e o futuro. Um chefe de batalhão da PM disse que "está um silêncio total" e que não recebeu nenhuma diretriz nesses dias que ele chama de "limbo de poder".

Braga Netto fará mudanças iniciais na cúpula da secretaria e nas chefias de polícia, deixando a troca em batalhões e delegacias para depois.

Enquanto isso, há policiais operando por conta própria. Um titular de delegacia especializada disse à Folha que inquéritos continuam, assim como operações e cumprimento de mandados. No entanto, a decisão de abrir novas frentes de investigação ou dar seguimentos a operações que seriam mais complexas e demandariam apoio de outros setores estão em suspenso.

Já em batalhões, diz um oficial da PM, a atuação se resume ao policiamento ostensivo e atendimento de chamados, deixando operações de lado.

Em nota, o Comando Militar do Leste, responsável pelos militares que atuam no Rio desde setembro, afirmou que "o processo de intervenção está em fase inicial" e que "a equipe que trabalhará diretamente com o interventor está sendo formada e será anunciada nos próximos dias".

O CML diz ainda que os órgãos de segurança do Estado "seguem funcionando normalmente" e ressalta que a intervenção têm caráter civil, e não militar, apesar de o interventor nomeado ser um general da ativa do Exército. Em nota, o interventor pediu "esforço conjunto da sociedade fluminense" em torno das medidas que serão tomadas.

Desde a redemocratização que um militar da ativa das Forças Armadas não comanda a Segurança Pública do Estado. Em 1999, o então governador Anthony Garotinho nomeou como secretário um general da reserva do Exército, José Siqueira Silva, que permaneceu apenas 95 dias no cargo.

Mais recentemente, houve a chamada era dos delegados de Polícia Federal na Segurança, com nomeações de Marcelo Itagiba (2004-2006), José Mariano Beltrame (2007-2010) e Roberto Sá (2016-2017). O ex-coronel da PM Josias Quintal foi o último militar a comandar a secretaria, em 2003.

DIA VIOLENTO

Apesar da intervenção decretada, o Rio teve um dia violento nesta quarta-feira (21).

Na madrugada, o tenente da PM Guilherme Lopes da Cruz, 26, foi morto em uma tentativa de assalto em Jacarepaguá, zona oeste. Ele era subcomandante da UPP da Vila Kennedy e havia participado, um dia antes, de operação que buscou encontrar criminosos envolvidos na morte de um sargento do Exército em Campo Grande que reagira a um assalto. Dois PMs foram mortos desde a última sexta --totalizando 18 neste ano na corporação.

À tarde, uma tentativa de assalto em Botafogo, zona sul, terminou com o suspeito baleado e outras quatro pessoas feridas. Em Duque Caxias, Baixada Fluminense, um tiroteio entre policiais e traficantes deixou um homem morto e duas crianças baleadas.

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