Descrição de chapéu Mobilidade urbana Brasília

Flanelinha que escapou de desabamento diz que viaduto 'rangia'

Parte do Eixão, principal via rodoviária de Brasília, desabou nesta terça-feira (6)

Rubens Valente Natália Cancian
Brasília

O guardador de carros Raimundo Nonato Santana, 52, que escapou ileso do desabamento de parte de um viaduto no Eixão, em Brasília, nesta terça-feira (6), disse que a estrutura estava "rangendo" nos últimos meses. Ele afirmou que, sem renda, não sabe como cuidar da mulher e de dois filhos que vivem na cidade-satélite de Santa Maria. O viaduto foi isolado pelos bombeiros.

"Antigamente não rangia, agora está rangendo. Tem várias rachaduras na ponte", disse Santana. Ele afirmou que estava embaixo do viaduto, numa parte que não cedeu, e viu quando a estrutura desabou por volta das 11h30. Outro colega flanelinha, segundo Santana, também conseguiu escapar porque a estrutura emitiu "estalos" poucos segundos antes de cair. O colega, segundo ele, bateu com a perna em um dos carros estacionados embaixo do viaduto.

Santana disse que, antes da queda, ouviu estalos e chegou a subir no mezanino do restaurante que funciona embaixo do viaduto para saber o que estava acontecendo —o restaurante Floresta vende marmitas a R$ 10 e comida a R$ 33,99 por quilo. No momento do acidente, havia cerca de 15 clientes no local, segundo a proprietária, Pavleska Miranda, mas ninguém se feriu.

Santana afirmou ter imaginado que era um ladrão. Quando ele voltou para cuidar dos carros, a estrutura desabou.

"Eu antes escutei o zinco 'estralando'. Eu avisei a menina [do restaurante vizinho], 'ó, alguma coisa está acontecendo ali'. [...] Quando eu vi caiu aquela parte lá primeiro, veio caindo em câmera lenta. O menino [colega flanelinha] saiu correndo e acho até que está mancando da perna porque bateu a perna no carro."

Santana disse que um cliente estava para sair com seu carro no viaduto mas, a pedido de um colega, resolveu almoçar antes. Segundo o flanelinha, se o homem tivesse ido buscar seu carro, o viaduto o atingiria. "Foi o salvamento dele", disse o flanelinha. 

Natural de Porto Nacional, no Tocantins, Santana disse ter chegado a Brasília quando tinha cerca de 16 anos. Santana relatou que sua mãe, divorciada, trabalhava como costureira mas enfrentava dificuldade para criar quatro filhos. Santana então decidiu trabalhar como guardador e lavador de carros embaixo do viaduto conhecido como Galeria dos Estados, na Asa Sul. Embora embaixo do viaduto exista uma alça de acesso ao Eixão, o local acabou sendo usado como estacionamento, que vive lotado. Santana disse que chega a cuidar de 30 carros ao mesmo tempo.

Segundo ele, há 36 anos trabalha no mesmo lugar, das 6h às 19h e de segunda a sábado. Por isso, não conseguiu estudar em escolas. Anos atrás, segundo Santana, os clientes chegavam a deixar com ele a chave do carro, mas se aborreceu quando alguns clientes só retornaram de noite. Ele disse que decidiu não ficar mais com chave nenhuma.

Por um tempo Santana chegou a vender churrasquinho embaixo do viaduto, mas parou com o comércio depois de ter sido assaltado nada menos que quatro vezes, em seis anos, todas a mão armada. "Eu desisti, não dá, tudo que eu ganhava aqui, eu perdia lá adiante", disse o flanelinha.

Para Santana, houve uma coincidência entre os problemas no viaduto e o início das operações do BRT, um sistema de ônibus rápido inaugurado na Copa de 2014. Segundo o flanelinha, sempre que os ônibus passavam no Eixão, o viaduto trepidava. Antes o viaduto já tremia, mas depois que o BRT entrou em operação, segundo Santana, o viaduto passou a "ranger" muito mais. 

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