Mãe que ficou presa em cela com bebê diz ser inocente

Jéssica Monteiro afirma que policiais inventaram que ela carregava maconha

Amanda Gomes
São Paulo | Agora

Menos de 24 horas depois de deixar a cadeia, a dona de casa Jéssica Monteiro, 24 anos, que ficou presa junto com o filho recém-nascido em uma cela no 8º DP (Brás), após ser acusada de tráfico de drogas, só pensa em provar sua inocência. Em entrevista ao "Agora", ela diz que não iria fazer isso prestes a dar à luz.

Jéssica, que não tem passagem pela polícia, foi presa no último dia 10 e entrou em trabalho de parto na cadeia, no dia 11. Dois dias após dar a luz na maternidade, ela e o bebê voltaram para a cela.

A Justiça negou, em primeira instância, que ela cumprisse a pena em prisão domiciliar. O caso teve grande repercussão e ela acabou sendo libertada.

mulher amamenta filho em barraco
Jéssica Monteiro, 24, com o filho em sua casa - Robson Ventura / Folhapress

A jovem recebeu a reportagem no barraco de madeira de dois cômodos e sem banheiro onde vive com o marido e seus dois filhos, Cauã Samuel, três anos, e Enrico, de sete dias, que ainda não foi registrado.

A casa fica em um terreno invadido, dividido por sete famílias, à beira da avenida do Estado, no Bom Retiro (região central).

Ela afirma que a droga encontrada, 27 gramas de maconha, no corredor do terreno, não era dela, e que os PMs inventaram que ela carregava quatro porções do entorpecente em seu sutiã.

Um vizinho de Jéssica foi preso no local com maconha e cocaína. No total foram encontrados 96,4 gramas de maconha e 8,6 de cocaína.

"Eles [PMs] me viram na porta do barraco e já entraram. Começaram a revirar tudo e falaram que eu estava presa. Não entendi nada. Na delegacia nem pude dar a minha versão", conta.

Jéssica lembra que, quando chegou na cadeia, ficou sentada sobre cobertores. O colchão só veio depois que ela voltou da maternidade com o filho recém-nascido.

No hospital, ela ficou todo tempo algemada, com exceção do momento do parto, sempre acompanhada de policiais. "Eu tive medo de não sair mais da cadeia. Pensava muito em como estava meu outro filho. Quero um futuro melhor para eles."

MEDO

Com medo de sofrer represália dos PMs, Jéssica e o marido resolveram sair do lugar em que moram. Na tarde de sábado (17), eles retiravam os poucos objetos da casa.

No local havia apenas um armário, fogão, geladeira (com água, um litro de leite e iogurte), uma cama de casal e o carrinho de bebê, onde Enrico dorme.

"Se eu fosse traficante, estaria em uma situação melhor. Se eu fosse traficante, ia ter dinheiro para o enxoval do meu bebê. Eu não ficaria dependendo de doações."

O recém-nascido tem apenas algumas roupas, um pacote de fraldas e um cobertor. "Nunca pensei que seria dessa forma. Peço a todo momento desculpas para meu filho porque, mesmo sendo inocente, o coloquei nessa situação. Não foi assim que planejei", disse.

A Secretaria da Segurança Pública disse que a prisão de Jéssica foi validada pela Justiça e que as Corregedorias das polícias não foram informadas sobre irregularidades na prisão nem no tratamento recebido pela jovem.

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